Semana USP de Ciência e Tecnologia 2018
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O rompimento da barragem de Fundão da empresa de mineração Samarco, localizada no distrito Bento Rodrigues na cidade de Mariana/MG aconteceu há quase 3 anos e pouco tem sido noticiado acerca dos encaminhamentos e consequências legais aos responsáveis pelo despejo de rejeitos na bacia do Rio Doce. À época do incidente, entretanto, os meios de comunicação realizaram uma cobertura expressiva e veicularam suas narrativas: alguns diziam que o ocorrido se tratava de um acidente, desastre ou tragédia; alternativamente, houve aqueles que chamaram de crime ambiental ou socioambiental. Isso porque, além dos impactos ambientais, os rejeitos trouxeram consequências sociais para a população da região que foi atingida pela lama tóxica, e também às comunidades ribeirinhas que tiravam dos rios poluídos o seu sustento. Além das vidas humanas que se perderam, para os sobreviventes de Bento Rodrigues restaram poucos registros da vida que levavam na região – perderam as suas referências. As fotografias e vídeos que os moradores guardavam como recordação foram perdidos, tal qual a esperança de poder transmitir o legado de seus antepassados a seus filhos e netos, como mostra o documentário “Memórias Rompidas – Tragédia em Mariana”, produzido pela TV Assembleia de Minas Gerais.
Considerando que uma compreensão mais ampla da realidade prepara os cidadãos para tomada de decisões e participação na sociedade, partimos da temática da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, “Ciência para a redução das desigualdades”, para desenvolver nossa proposta, que objetiva promover a criticidade acerca das diferentes narrativas veiculadas pela mídia em torno do rompimento da barragem sob responsabilidade da empresa Samarco. Assim, organizamos a oficina de modo a entender com maior profundidade os danos e a toxicicidade dos metais pesados, evidenciando as propriedades químicas desses contaminantes e seus efeitos cumulativos nos organismos vivos.
A oficina será iniciada com a análise e discussão das reportagens veiculadas à época do rompimento da barragem, evidenciando as diferentes fontes de informação e os viéses acerca da responsabilização do ocorrido. A transição entre a discussão e o conteúdo químico ocorrerá por meio da inserção de produções culturais resultantes da denúncia ao incidente e seus impactos, como fotografias, recortes do documentário já citado e da música “Cacimba de Mágoa”. Com esse direcionamento, o aspecto científico será tratado a partir da realização de experimentos e atividades de interpretação das propriedades dos metais pesados. Muitas pessoas podem desconhecer a presença de espécies metálicas em formas diferentes das substâncias simples (menos nocivas), que apresentam brilho e cor característicos – como os sais, compostos organometálicos, íons livres, entre outros. Por isso, surge a importância de se utilizar conceitos químicos ligados à Reatividade de Compostos Inorgânicos e às técnicas analíticas clássicas (complexação de metais e precipitação) e instrumentais (pH e condutibilidade elétrica) como forma de interpretar a toxicicidade causada por esses compostos.
Conhecem os bichos e plantas e como o galo que canta
Levantam todos os dias com energia e com a cabeça erguida
Mas vêm a lama e o descaso, sem cerimônia
Envenenando o futuro e o presente
(Cacimba de Mágoa – Gabriel, O Pensador)