Movimentos de retomada. O 29ª Nascente marca a volta aos palcos presenciais após uma edição pandêmica e um ano sem a realização do importante e tradicional projeto da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP. Seguindo a tendência do 28º Nascente, quando dramaturgia deslocou-se da categoria de Texto para a de Artes Cênicas, uma maioria de inscritos – treze, dos 22 totais – se apresentou neste formato. Mas as subcategorias de Direção e Interpretação em Grupo também se destacaram, com quatro inscritos em cada uma, além de uma Interpretação Individual completando os participantes do concurso.
Entre os seis finalistas, três direções e três dramaturgias apontaram para os tantos caminhos de se pensar e produzir obras das artes da cena, interseccionando teatro, dança e performance. A diversidade estética deu o tom dos dois dias da Mostra de Artes Cênicas, onde a comunidade universitária e o público externo pode acompanhar trabalhos de linguagens distintas, além de leituras dramáticas encenadas também de formas variadas.
Coreografias de corpos, palavras e identidades: o Espaço TUSP do Anfiteatro Camargo Guarnieri (e também seu foyer e sua entrada) foi pouso de discursos formalizados de forma plural, a partir das singularidades inerentes à criação artística.
Ele, com direção de Oliver Olivia Lagua, abriu o primeiro dia da Mostra, no dia 18 de outubro. Uma performance onde o diretor e seu companheiro – de cena e na vida real – propõem imagens e situações onde a masculinidade se monta e desmonta.
Um Percurso para Orlando e Outras Canções Sobre Nós, dramaturgia de Marina Corazza, parte da obra de Virginia Woolf e da vivência da autora como arte-educadora na periferia para debater identidades de gênero e violência, com um inevitável recorte de raça e classe.
Já desempregada, dramaturgia de Bella Rodrigues, desconstrói a jornada do herói, lançando-a sobre o cotidiano de uma jovem e refletindo em torno de nossa contemporaneidade pop-memética.
No dia seguinte, a direção de Thiago Neri ocupou múltiplos espaços da entrada do Anfiteatro Camargo Guarnieri. Ulysses: Éolo inspira-se em um episódio do clássico de James Joyce e constrói sua narrativa cartográfica a partir da composição de corpos e espaços.
Na sequência, Figura Humana, direção de David Atencio, inspirada no manifesto Homem e Figura Artística de Oskar Schlemmer, faz da cena tabuleiro geométrico para um jogo corporal de movimentos, onde gestos e imagens se sustentam e se transformam.
A Última Memória, dramaturgia de Rafaela Fernandes, apresenta três situações simultâneas onde lembranças individuais e memórias coletivas entrelaçam-se nas lidas com o passado e sua função na construção de futuros.
Compor, na cena, espaços possíveis de imaginação; palavras que dizem, corpos que (se) movem. Perscrutar as ficções que nos circundam em textos, danças e gestos. Na categoria de Artes Cênicas do 29º Nascente USP, verificamos mais uma vez que são múltiplos os modos de tornar tangível uma ideia; de fazer de um impulso, forma. Parabéns a todes pelos caminhos desbravados entre o desejo e a cena.
Amilton de Azevedo, Ferdinando Crepalde Martins, Sayonara Sousa Pereira