
Camila Montefusco e Vinicius Faina (Música – ECA USP) venceram o concurso em Música Popular da 24ª edição (2016) com um arranjo ousado e criativo de uma canção de Chico Buarque. Passados quase 3 anos, a intérprete nos contou detalhes da participação e experiência de terem vencido o concurso em uma de suas linguagens mais disputadas da USP.
Por Gabo Garzon e Rodrigo Monteiro
25 de Abril de 2019
O Nascente USP possui a vocação de tornar visíveis os trabalhos dos jovens e talentosos alunos da USP. Em sua opinião, qual a relevância de um projeto como esse, e, como encara a sua participação no concurso?
Eu acredito que o projeto Nascente USP tem um papel de extrema importância no reconhecimento de alunos altamente capacitados que merecem visibilidade nas mais diversas áreas. Para nós, estudantes das artes, nota-se uma constante luta para levar projetos pessoais adiante. As dificuldades da carreira se apresentam desde cedo quando não temos nosso trabalho reconhecido ou minimamente valorizado. Faltam oportunidades de amostra do que produzimos, falta incentivo para que continuemos criando. É nesse ponto em que o Nascente USP desempenha um papel fundamental no ambiente artístico universitário. Independente da premiação, o concurso abre-nos as portas para o palco e coloca em evidência o resultado sólido de anos de preparo e muito estudo. Colocar meus pés no palco do Nascente ao lado do meu parceiro e grande amigo Vinicius foi uma experiência única durante meus anos na USP, e posso afirmar que determinou muitos caminhos em nossas vidas após nossa participação no concurso.
A interpretação de uma canção de Chico Buarque na Mostra de Música Nascente foi vitoriosa no ano anterior à apresentação de vocês, com Giulia Faria, graduanda em Música da ECA. Como se deu a escolha para interpretarem outra obra do mesmo compositor para o concurso no ano seguinte?
O Duo Teresa em sua essência surgiu a partir da ideia de criar novos arranjos (voz, violino e violão) exclusivamente para canções de eu-lírico feminino da obra de Chico Buarque. Nós passamos quase dois anos amadurecendo a ideia e “dando luz” ao nosso projeto antes de nos inscrevermos no concurso. Coincidentemente, um ano antes de nos inscrevermos, a Giulia e a Carol, duas musicistas por quem nutro muito carinho e respeito, venceram o concurso com a canção “Meu Guri”. Apesar de interpretarmos obras do mesmo compositor, nossas propostas me pareciam completamente diferentes. Cada qual com a beleza, individualidade e o olhar que trazemos pra nossa arte como seres singulares, com histórias e experiências únicas.
Como surgiu a parceria com o Vinicius Faina e o que motivou a dupla a se inscrever no concurso?
O Vinicius é um amigo de longa data. Estudamos juntos no Conservatório de Música de Guarulhos e, coincidentemente, ambos queríamos dar continuidade aos nossos estudos na USP. Acabamos entrando no curso de música da ECA no mesmo ano, o que fortaleceu ainda mais nossa amizade e resultou no início da nossa parceria. Nós sempre gostamos de tocar e cantar juntos em situações completamente informais, até que um dia decidimos que valeria muito a pena pensarmos a respeito de um projeto sério, com um objetivo real. Eu, como violinista, sempre procurava oportunidades de cantar com alguém. O Vinicius, estudante de violão clássico, estava começando a explorar arranjo e composição. Foi aí que vimos nosso potencial de troca e criação. Compartilhávamos a paixão pela MPB e era essa a nossa chance de explorar outros campos de interesse que não a música erudita. O Duo começou como um projeto da matéria de Música de Câmara do nosso curso e acabou alçando vôo para além da universidade. Um professor nosso, ex-aluno do curso de música, falou sobre o Nascente e nos incentivou a participar do concurso. Nós vimos o potencial do nosso trabalho e pensamos: “por quê não?”. Não tínhamos ideia de quais eram nossas chances de ganhar o concurso, mas sabíamos que, independente de qualquer coisa, seria uma experiência muito positiva para o nosso projeto. Felizmente não estávamos errados.
Como o Nascente USP influenciou sua trajetória pós premiação?
A premiação definitivamente nos deu coragem para ir a fundo nesse projeto. Foi a primeira vez que tivemos uma noção real do quanto o público poderia se interessar pelo nosso trabalho. Nós tínhamos algo a dizer e as pessoas queriam nos ouvir. Após o Nascente USP, começamos a pensar em possibilidades de show, onde e como apresentar nosso trabalho, para quem, em quais circunstâncias… Começamos a sonhar e a fazer planos em torno do Duo Teresa. Foi assim que conquistamos uma turnê pelo SESI através de um edital em que nos inscrevemos. Tivemos a oportunidade de tocar em cidades do interior de São Paulo, conhecendo pessoas, fazendo contatos, amadurecendo nossa parceria e lapidando nosso trabalho. Foi certamente uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida, e, falando num âmbito pessoal, me fez compreender melhor quem eu sou e o que se tornaria meu foco de estudo na música . Atualmente estou me concentrando no meu mestrado em canto lírico, o que não me afasta do violino ou da música popular. Muito pelo contrário, estar longe do meu país, falando uma língua que não a minha, só me aproximou da minha arte e da paixão absoluta que tenho pela música tão rica e preciosa que temos no Brasil. Esse não é o tipo de decisão que se toma do dia pra noite, mas eu me recordo do momento em que efetivamente aceitei estar mudando o rumo dos meus estudos, e foi exatamente após a premiação do concurso Nascente. Foi quando eu soube que o violino sempre teria um espaço especial na minha vida, mas que eu precisava descobrir mais sobre a minha voz e conquistar meu espaço nessa área, agora como cantora. Devido às circunstâncias, infelizmente o Duo Teresa precisou de uma pausa, mas eu sei que ele não acabou. Existem planos concretos de dar continuidade ao nosso trabalho em um futuro não tão distante. Eu e o Vinicius sabemos que, não importa o tempo que passe, quando nos encontrarmos pra retomar esse projeto só teremos mais ideias e mais conhecimento de como executá-las. Parcerias como essa não têm data de validade.
Qual mensagem você deixaria para os (as) candidatos (as) que querem se inscrever no Nascente USP em Música Popular neste e nos próximos anos?
Valorizem o trabalho de vocês. Não subestimem suas ideias, sua capacidade de execução, sua criatividade e paixão pelo que fazem. Infelizmente a música popular tende a ser desmerecida, julgada com menor importância. Vocês sabem do que eu estou falando. E eu peço encarecidamente que não se deixem influenciar pelas ideias de uma indústria que não nos favorece. Existe muito estudo e competência por trás do som que a gente produz. As pessoas vibram com a energia que a gente coloca nos nosso projetos porque eles transbordam vida, e é por isso que eles precisam ser compartilhados. Se vocês têm algo a dizer, terão sempre pessoas dispostas a ouvir. O Nascente USP está aí pra oferecer essa experiência de troca e reconhecimento de trabalhos extremamente relevantes que precisam de incentivos externos para que floresçam e conquistem os espaços que merecem.