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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
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Distorções cognitivas de ofensores sexuais em interação grupal e familiar

Distorções cognitivas de ofensores sexuais em interação grupal e familiar
  • 2020
  • 2020_RaianeNunesNogueira

Fonte

Repositório Institucional da Universidade de Brasília (UNB)

Autoria

Raiane Nunes Nogueira

Resumo

Esta pesquisa buscou ampliar a compreensão sobre a distorção cognitiva, um dos sintomas clínicos observados em ofensores sexuais adultos de crianças e adolescentes. A distorção cognitiva é uma justificativa do ofensor acerca do cometimento da ofensa sexual que destoa das normas sociais e implica em possibilidade de mudança a partir de atendimento terapêutico. As distorções cognitivas também aumentam a vulnerabilidade para o cometimento da ofensa sexual e, portanto, seu tratamento está significativamente relacionado com a diminuição da probabilidade de reincidência. A principal função das distorções cognitivas é neutralizar emoções negativas do ofensor sexual que surgem a partir de um conflito interno e da estigmatização social. Utilizando-se do olhar sistêmico, investigou-se a distorção cognitiva de homens adultos ofensores sexuais intrafamiliares de crianças e adolescentes durante o processo de avaliação e intervenção em contexto da saúde, especificamente grupal e familiar. Realizou-se uma etnografia da intervenção grupal e das entrevistas familiares conduzidas pela equipe do CEPAV Alecrim, unidade de saúde pública especializada no atendimento de adultos ofensores sexuais. Os ofensores atendidos pela unidade foram encaminhados por varas criminais, tendo já respondido a processo criminal, ou em cumprimento de sentença. A intervenção grupal observada contou com a presença de 13 homens e, em relação às entrevistas familiares, foram observadas quatro sessões. Todas as informações foram registradas com o auxílio do diário de campo que foi analisado a partir de uma leitura fluida e exaustiva buscando por sentidos comuns relacionados às distorções cognitivas presentes na interação grupal e nas interações familiares. Para a construção do corpus de análise, foram valorizadas as impressões do observador, assim como as falas individualizadas e as falas ocorridas nas interações. Os resultados mostraram que a distorção cognitiva esteve presente durante a intervenção grupal, sendo compreendida como expressão da ansiedade no enfrentamento de emoções negativas. Por outro lado, também foram observadas como parte do planejamento de futuro e reinserção social. Observou-se que as distorções cognitivas apareceram durante os diálogos ocorridos no grupo naqueles momentos em que a discussão envolveu estigmas de ser um ofensor sexual, motivação para o cometimento da ofensa sexual, questionamento da masculinidade e incontrolabilidade do desejo sexual. A expressão das distorções cognitivas, por vezes, aliviou o clima de tensão da interação grupal. Com relação às interações familiares, as distorções cognitivas identificadas possuíram função de fortalecer os vínculos familiares. A ausência do membro ofensor sexual gera grande sofrimento para a família, que precisa se reorganizar material e emocionalmente. Uma vez que a relação de apoio mútuo e lealdade é construída ao longo dos anos e sustenta a estrutura familiar, a família busca se ajustar ao seu retorno do sistema judiciário. Entretanto, a partir da revelação da ofensa sexual, a família precisa se reposicionar. Para amenizar a tensão e o sofrimento, a família aceita e acompanha o ofensor sexual nas distorções cognitivas e constroem uma percepção alterada da realidade que é mantida a partir do mito familiar, por meio do exercício do compromisso da lealdade. Ainda, evitam falar sobre o ocorrido tentando manter o segredo familiar sobre a ofensa sexual intrafamiliar ocorrida. Dessa forma, a família consegue reconstruir a estrutura familiar após o retorno do ofensor sexual e protegê-lo de um novo cometimento.

2020_RaianeNunesNogueira

 

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