Direitos Humanos e migração: Educar para o Mundo

Allan Greicon, graduado em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo, contou à Revista de Cultura e Extensão USP um pouco mais sobre o Projeto de Extensão Educar para o Mundo.

“Participei do projeto e atual coletivo extensionista Educar para o Mundo (EpM) de 2013 até o primeiro semestre de 2015, período em que posso falar melhor sobre a iniciativa e minha experiência. O Educar busca trabalhar os direitos humanos dos migrantes latino-americanos na cidade de São Paulo por meio do diálogo horizontal com seus interlocutores. Realizamos diversas oficinas de direitos humanos, utilizando como base (ou seja, reinventando) os círculos de cultura de Paulo Freire. A principal discussão fomentada nos últimos anos foi sobre a legislação migratória: o obsoleto Estatuto do Estrangeiro e as propostas para sua mudança. Dividimos as oficinas em quatro eixos: direitos políticos, direitos sociais, [não-]acesso à mídia e criminalização da imigração. A nossa ideia sempre foi estabelecer um diálogo entre as regras que regem a vida do imigrante e a sua experiência pessoal.

O coletivo age junto de associações de migrantes e nos espaços ocupados pelas comunidades migrantes (como a conhecida Praça Kantuta). Cada vez mais fomos adotando um foco político, de incidência na questão migratória, em todos os âmbitos, principalmente na luta pela efetivação de políticas públicas para migrantes.

Algumas realizações tangíveis do projeto referem-se ao número total de participantes envolvidos nas oficinas, aos vídeos informativos e um documentário, à participação em diversos fóruns e espaços de participação e mesmo à formulação de políticas públicas junto à prefeitura. Além disso, houve atuação ativa na USP, desde a discussão da estrutura universitária (e sua aproximação com a sociedade) até a publicação de artigos, promoção de palestras, debates e exposições para compartilhar e desenvolver o acúmulo adquirido em nossas atividades.

Desde 2013 o EPM também vem buscando estabelecer vínculos com outras comunidades migrantes para além das latino-americanas. Aproximamonos da população refugiada e realizamos eventos conjuntos, como uma mesa sobre a “Nova Imigração Negra no Brasil” no mesmo ano. Também trabalhamos com a Coordenação de Políticas para Migrantes da Prefeitura de São Paulo desenvolvendo projetos em parceria, como o documento-base para a 1ª Conferência Municipal de Políticas para Migrantes e um sarau no abrigo provisório montado para imigrantes recém-chegados na Rua do Glicério, realizado em 2014. Naquele ano também participamos da COMIGRAR (Conferência Nacional de Migrações e Refúgio), com delegados e uma oficina sobre políticas públicas municipais para migrantes.

Acredito que desenvolver um projeto dentro e fora da universidade, de maneira dialógica, como se propõe a extensão universitária idealmente, é um desafio gigantesco. Há diversos entraves burocráticos na estrutura universitária e pouquíssimo diálogo, além de obstáculos para que projetos ou pessoas transitem pelos muros da universidade. Contudo, os desafios trazem consigo também muita aprendizagem. O esforço contínuo em aplicar os conhecimentos da graduação na prática e de democratizar a universidade, além da maior vivência com colegas de diversas faculdades da USP e com professores, foi uma experiência única e grandiosa, que acredito ter sido fundamental para meu desenvolvimento profissional, acadêmico e cidadão.”

Confira também: O artigo sobre o Educar para o Mundo, publicado no volume 13 da Revista Cultura e Extensão.

COMIGRAR_2014

Foto: Divulgação