Liga de Hanseníase

As estudantes de enfermagem Karen Santos e Marcela Gonçalves contaram para a Revista de Cultura e Extensão USP como foi participar do projeto Liga de Hanseníase.

“Como o tratamento da hanseníase em Ribeirão Preto é centralizado nas unidades distritais e no Hospital das Clínicas, nem sempre as Unidades Básicas têm acesso aos pacientes que iniciaram o tratamento, então o objetivo do projeto é inserir o aluno bolsista para realizar essa comunicação entre distrital e básica, para que a equipe tome ciência e não deixe de realizar o atendimento necessário ao paciente portador de hanseníase. O aluno também é responsável por elaborar e realizar atividades de busca ativa, juntamente com a equipe, além de fazer visitas domiciliares e pedidos de exames complementares junto aos agentes comunitários de saúde e a enfermeira responsável.

O público alvo do projeto é a população residente na área de abrangência da UBS da Vila Recreio, em Ribeirão Preto. É um bairro que possui algumas áreas de comunidade carente e que vivem em aglomeramentos e precárias condições de vida, por isso a necessidade de um olhar mais atento para as duas patologias (hanseníase e tuberculose) que são negligenciadas e possuem um histórico de maior incidência em populações com esse perfil. O projeto é realizado em uma Unidade Básica de Saúde na Vila Recreio, em Ribeirão Preto, o Posto Piloto Adalberto Teixeira Andrade, e no Centro de Saúde Escola Joel Domingos Machado.

Percebeu-se que a equipe estava mais sensibilizada para essas duas doenças e com isso passou a realizar um atendimento mais humanizado para o paciente, e este passou a sentir-se mais apoiado e acompanhado, garantindo também sua continuidade no tratamento e manutenção do vínculo com a unidade de saúde. A comunidade também se beneficia do projeto ao participar das rodas de conversas e divulgações que são realizadas, pois assim são informações a mais que contribuem para melhoria da qualidade de vida, permitindo diagnosticar mais cedo, receber o tratamento e, assim, evitando complicações. Com o projeto, houve a fundação da Liga de Hanseníase Profª. Drª. Mª Helena Pessini de Oliveira, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP, que realiza atividades extracampus para a população, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e com o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan).

A Liga de Hanseníase, sob a tutoria da Profª Drª Cinira Magali Fortuna, produziu o documentário Hanseníase: recontada, revivida, que traz relatos de pessoas que trataram na época do isolamento compulsório e pessoas que trataram na era da poliquimioterapia. Os relatos remetem às lembranças da família, do trabalho, do convívio social, dos momentos de lazer, do preconceito, e também dos momentos de cobaias experimentais. Sobretudo, a mensagem retratada é o momento em que cada um olhou para além da doença e conseguiu falar sobre seus sonhos, desejos e até mesmo sua rotina continuavam ali, apenas esperando que ele continuasse. Ressalta a superação encontrada em cada obstáculo e a concretização de sonhos. O lado triste da hanseníase todos conhecem, mas o outro lado da história, a superação, o lado humano não costuma ser mostrado.  O documentário possui auxílio da Pró-Reitoria de Cultura Extensão Universitária da USP e da Pró-Reitoria de Graduação da USP, além de auxílio de docentes, funcionários e alunos da comunidade da USP, campus de Ribeirão Preto. O documentário não está disponível online, para se ter acesso é necessário entrar em contato com a equipe técnica. Não divulgamos, pois estamos inscrevendo em mostras e festivais de cinema, e também porque desejamos colocar em debate o tema hanseníase e os aspectos sociais que a envolvem, ao exibir o documentário.

Quando se é aluno de graduação, enfrentam-se algumas dificuldades em meio a mudança de rotina, adaptação a universidade e se encontrar como um futuro profissional. Na área da enfermagem, percebemos que a responsabilidade é grande, uma vez que temos todas as adversidades ao nosso redor. No entanto, ao desenvolver um projeto de extensão, podemos construir um conhecimento que envolve desde atenção à saúde até relações interpessoais e integração entre os serviços públicos. Além de desenvolver habilidades e atitudes que norteiam a profissão e fazem um bom enfermeiro. A possibilidade de participar deste projeto nos fez crescer como alunas, cidadãs e futuras enfermeiras, pois compreendemos as complexidades que envolvem não somente as doenças com as quais lidamos neste trabalho, mas também todos os problemas de saúde.”

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Visita técnica da Liga de Hanseníase ao Instituto Lauro de Souza Lima, em julho de 2014

Os interessados em ter acesso ao documentário Hanseníase: recontada, revivida  devem entrar em contato com os membros da Liga de Hanseníase ou pelo e-mail: liga.hanseniase.usp@gmail.com

O projeto de extensão apresentado deu origem a um artigo, publicado pela Revista de Cultura e Extensão USP.