Arte, uma pequena palavra, mas de uma importância incomensurável. A arte nos inspira, eleva, instiga e nos dá propósito. Fazer e apreciar a arte não depende da idade. Pode ser encontrada nos desenhos da nossa primeira infância. Nas manifestações contestadoras da adolescência e início da adultidade e nas reflexões e amadurecimentos da velhice. O primeiro prêmio Arte e Literatura da USP 60+, que seguiu aos dois prêmios de fotografias realizados em 2019 e 2020, deu espaço para as criações deste público, frequentemente esquecido pela nossa sociedade. Pintura, escultura e fotografias foram os suportes escolhidos. Os trabalhos refletiram as experiências, valores, inspirações e criatividade que mostraram a grande diversidade e riqueza do envelhecer-viver.
Egídio Dórea, coordenador do Programa USP60+
Foram mais de 240 inscrições de idosos residentes em mais de 15 estados brasileiros. Recebemos inúmeros trabalhos carregados de sensibilidade, memória, criatividade e protagonismo do público 60+. É com grande satisfação que promovemos a exposição dos trabalhos selecionados no 1° concurso Prêmio Arte e Literatura do Programa USP 60+.
Os trabalhos enviados foram de caráter livre, o que possibilitou ao público maior liberdade criativa para expressão de sua arte.
O Prêmio Arte e Literatura reverenciou o desenvolvimento de obras criadas pelo próprio autor, através de sua perspectiva da arte e da literatura em si, além de retratos de trabalhos artísticos capazes de dar significados ao que é visto pelos olhos dos autores.
O concurso teve como principal objetivo enaltecer e dar visibilidade à produções artísticas e literária do público 60+, visto que, foi contemplado os eixos das Artes Visuais dentro das seguintes categorias: Fotografia, Escultura, Desenho e Pintura; O eixo da Literatura recebeu trabalhos de prosa(conto e crônica) e poesia.
Portanto, convidamos a todos a prestigiar e acompanhar os trabalhos elaborados pelos candidatos e selecionados pelo júri.
SELECIONADOS
WALL
Áurea Nogueira Lima
” A obra “Wall” faz parte de uma série de xilogravuras nas quais utilizo mais de uma matriz na impressão, possibilitando assim variações de cores, tonalidades e formas.
A abstração com geometria, perspectiva e texturas têm sido predominante nos meus trabalhos mais recentes.
Nos últimos anos, estive coordenando o ateliê CAIS de gravura. Lá pesquisamos várias técnicas de gravação buscando novos efeitos gráficos.”
MULHER ; FOLHAGEM E VAZIOS
Antonio Morales Gonzalez
A impressão do trabalho mulher foi feita com colher de pau.
A impressão do trabalho ‘folhagem e vazios’ foi feita em um prelo.
PLANETÓIDE AMARELO 5
Anita Szochor Colli
Escultura
Planetoide Amarelo 5 faz parte de um conjunto de estruturas tridimensionais construídas com materiais descartados de laboratório. Sua criação resulta de um processo de pesquisa e experimentação em busca de novos significados e de uma estética espacial própria que não leva em conta a utilidade original desses materiais.
SEM TÍTULO
Grinaura Maria da Silva
“Moldei para contar a minha história, como minha mãe me levava para a roça dentro de um balaio, como a gente ficava no beiral da casa olhando para as estrelas…
moldei porque só falando não dava para entender, queria que vissem.”
RUA VEIGA FILHO I ; RUA VEIGA FILHO II
Maria Regina Cerávolo de Melo Zerey
Pintura
Desenho de observação do local apoiado na representação real da paisagem, busca uma expressão desconhecida e coerente com a construção pictórica. A procura dessas formas que são evocadas e que se complementam dentro de uma nova estética, produzem uma linguagem harmônica nunca antes conhecida e apresentam o poder de abstração do artista. O movimento das linhas, suas espessuras e os planos por elas formados, traduzem o pensamento, o sentimento e a força criativa que se faz presente através da Arte. Neste trabalho foram utilizadas poucas cores, para que a unidade pictórica fosse alcançada. A imagem apresentada é imaterial, invisível aos olhos, porém, verdadeira
A partir do trabalho anterior – Rua Veiga Filho I–em que novos espaços foram construídos, neste trabalho a procura foi a busca de uma harmonia cromática, onde o colorido surgiu em função do novo desenho que se apresentou. A referência das cores do local deixa de ser observada e as novas tonalidades constroem a unidade mental. A transposição da realidade física para aquela que se apresenta, permite mostrar a força do encantamento do imaginário e novas possibilidades de imagens, que por sua vez, comunicam para o nosso mundo, parte do mundo invisível da arte. A Arte, portanto, é comunicação e revelação.
SEM TÍTULO
Silvia Abramant
A obra é uma lembrança de quando estive em Giverny, casa de Monet, meu primeiro passeio na França e inesquecível muitas flores em diversos formatos, cores e perfumes que me encantaram…
Nesses jardins foi isso que senti e tentei transmitir através dessa aquarela .
Quando retornei voltei a me dedicar a arte das águas coloridas como gosto de chamar a técnica da aquarela.
Desenhar a natureza é a minha paz
LYRA DE IBITIPOCA
Gerson Esteves Guedes
A obra retrata a Banda Musical “Lyra de Conceição de Ibitipoca” apresentando-se no adro da Matriz de N. S. Imaculada Conceição.
Em minhas telas, procuro traduzir as histórias das Gerais: os caminhos, trilhos e Vilas que seguiram o brilho do ouro e o aroma do café. Cores desta extensa colcha de retalhos poéticos costurados pelas linhas da Mantiqueira.
MOVIMENTOS I
Antonio Fernando Berto
Pintura
Nanquim colorido sobre papel
SEM TÍTULO
Neyde Angela Joppert Cabral
Sobre a elaboração da obra: Um dos eixos referenciais de minha produção artística é o nu artístico. Durante o isolamento social devido à Covid-19, nos anos de 2019 e 2020, intensifiquei essa vertente, participando semanalmente de sessões de modelo vivo transmitidas através de plataformas digitais. Nessas sessões a elaboração de um desenho ou pintura fica contida no tempo da pose do modelo. No caso a pose durou 10 minutos. Descrição da obra: A pintura mostra a figura nua de um homem jovem sobre um sofá. Não se vê o olhar do modelo, apenas seu corpo em escorço desde o encosto do sofá até o piso, onde apoia a cabeça sobre um dos braços. As cores de seu corpo são laranja e avermelhados, contrastando com as do sofá e piso, em tons frios de verde azulado.
RESSIGNIFICANDO
Sônia Maria Francisco
Desenho
Ensamblaje , díptico.
Ausência de cores e formas.
SEM TÍTULO
Vânia Lewkowicz Katz
Adoro desenhar nos locais onde vou. Em viagem com minha mãe para Portugal, um dos locais de visita foi a tão conhecida Livraria Lello. Uma moça que trabalhava lá, me viu rabiscando em pé e logo me arrumou uma cadeira para que eu pudesse desenhar aquela escadaria tão mágica e poderosa, contrastando com a delicadeza do teto. E foi assim, em meio a uma confusão de gente e ruídos, na minha folha de papel Hannemülle presa numa pranchetinha que me acompanhou a viagem inteira, que registrei as cores, formas e contrastes, com aquarela, esse momento especial da viagem
BALBINA ; ESTELINA ; RICARDO E ANTONIA
Wilnês Henrique
BALBINA, ESTELINA, RICARDO E ANTONIA são desenhos a lápis sobre papel (42cm x 59,4cm) de velhos objetos manuais: uma máquina de costura, um ferro de passar roupas de viagem à carvão e uma balança de pesos. Eles são parte da série de desenhos OBJETOS REENCANTADOS.
Desde menina gosto das coisas feitas e tocadas por mãos que já se foram. Que se tornaram lembranças de outros tempos, outras gentes, outros modos de viver, esquecidas pelos cantos, com sua utilidade perdida, adormecidas como peças de decoração.
Desenhar esses objetos, inscrever no papel a magia de suas formas e volumes numa trama de linhas e texturas, luzes e sombras, trazer relações com quem eles estiveram e estão, é também reencantá-los.
INVEN_AÇÃO
José Salvador de Abreu
Desenho
Torna-se fundamental a manutenção da criatividade, independente da idade, onde podemos compartilhar momentos em que as pessoas que visualizam possam também participar de um universo, onde prevalece o nonsense sempre de uma forma positiva.
O OLHAR DO PESQUISADOR ; UM OLHAR SOBRE BERLIM
Ciro Julio Cellurale
Desenho
“Num estudo de cintilação de diamantes aplicados a raios x”. Quando eu conheci o amigo Francesco Rossi Lena na biblioteca da Área 2 do Campus USP São Carlos onde eu trabalhava na ocasião, ele estava envolvido com um bonito projeto do Grupo Zenith da Escola de Engenharia de São Carlos, para lançamentos de sondas espaciais que levavam experimentos criados por crianças e adolescentes de diversas partes do país para a estratosfera. Apaixonado por ciência, ele, o incansável pesquisador, talvez esse seria o nome ideal para o amigo e para a obra, nesse trabalho, o cientista compenetrado e refletido em seu experimento por diversas vezes, num processo exaustivo de investigação para levar conforto ao mundo.
A Biblioteca da Área 2 do Campus USP São Carlos é um lugar bonito, diferenciado e gigantesco onde eu fiz inúmeros amigos, entre eles, o físico Tamino Martens. Impossível não tê-lo como amigo, pessoa agradável e humilde. Não sei porque eu sempre o associava a Alemanha, e em certa ocasião ele foi mesmo para Berlim visitar os tios, primos e eu tive também a oportunidade de conhecer Berlim através de suas fotos nas redes sócias com lugares maravilhosos que só um morador de Berlim conhece. Aproveitei a oportunidade e fiz o desenho que é uma homenagem para essa grande pessoa e amigo.
CRIATURAS 02b
José Carlos Barbosa de Aragão
Numa espécie de pareidolia, o artista captura imagens fragmentadas de pavimentos urbanos e as replica lado a lado, criando composições figurativas e padrões aleatórios ou organizados, através de espelhamentos, rotações e cortes. A obra apresentada é uma montagem fotográfica produzida a partir de um detalhe da pavimentação urbana da cidade de Porto Alegre, e integra a série Criaturas. Nessa pesquisa do artista, é notória a combinação de influências do Neoplasticismo holandês do De Stijl (início do séc. 20) com o Neoconcretismo brasileiro (meados do séc. 20) e, principalmente, com os padrões geométricos característicos da obra de Athos Bulcão (1918-2008), a quem busca homenagear.
SEM TÍTULO
Barbara Paci Mazzilli
Fotografia
As pétalas das flores podem sair por aí rodopiando com seus babados numa dança hipnotizante.
LEVITAÇÃO; ACRÓBATA
José Gaspar Brunelli
Foto realizada durante apresentação de festival de dança no teatro em Salto-SP.
A coreografia era uma exaltação ao sol, estilo livre.
Foto realizada em apresentação de dança contemporânea no teatro em Salto-SP.
A coreografia referia-se aos materiais que a natureza disponibiliza.
ILUSÃO
Leda Campestrin Costella
Inverno 2021. Campos do Jordão. São 06:59h. No termômetro, aqui dentro treze graus, lá fora menos quatro. O sol começa a dar sinal. Olho pela janela do quarto. O vidro está suado e seu suor forma infinitas gotas de água. Algumas escorrem. Por trás das gotas surge o brilho do sol. Pego o celular e abro a câmera. Enquadro e clico. Clico mais algumas vezes. A luz se foi. O momento, um segundo, e a imagem já não existe mais. Abro as fotos, a primeira não. A segunda, gostei. Vou para a terceira, também não. Volto para a segunda. Isso! Foto escolhida. Passeio pelo jardim, encontro com uma pereira centenária,seu tronco corroído pelo tempo. Enquadro o oco do tronco. Mais uma foto. Sobre as pedras cinzentas de uma mureta, o líquen insiste em sobreviver. A iluminação ajuda, foco nesses seres persistentes. Surge a terceira foto.
KEEP WALKING
José Carlos Servilha
Fotografia
A presente imagem é um segmento de tapume da construção do metrô na cidade de Copenhague-Dinamarca e estampa, simbolicamente, os percalços urbanos no cotidiano frenético da sobrevivência.
Reflete o exercício do olhar fotográfico, mediante a utilização do binômio “ver e enxergar”, isto é, sintetizar a objetividade da visão aliada à sensibilidade de vislumbrar o que está em ressonância com os sentimentos presentes no ato do registro fotográfico.
DUPLA ANCORAGEM
Norma Vasconcelos Saldanha Marinho
Fotografia
Esta foto foi feita em uma saída fotográfica no porto de Santos. A intenção era visitarmos o lugar conhecido como cemitério de barcos. Local onde navios com problemas de documentação, na maioria das vezes, eram obrigados a permanecerem atracados por anos sem manutenção. Com o passar do tempo, o abandono e a deterioração os levava a afundarem. Muitos deles com grande parte de suas cargas.
Este local tem muitas cores e aves. O acesso se faz através de embarcações locais conhecidas como catraias. Foi a partir de uma catraia que fiz esta foto.
É um lugar de grandes contrastes pelo negrume do solo, pela vegetação de mangue, pelas aves coloridas e pelo entorno com favelas
FOGO
Rosely Donatelli
O fogo sempre foi objeto de encantamento e a fogueira nos leva a momentos lúdicos.
Essa foto é um detalhe de uma fogueira , foi tirada com zoom num celular IPhone XR.
SEM TÍTULO
José Geraldo Heleno
Desde que me pus a praticar e estudar fotografia, fi-lo como autodidata no âmbito da macrofotografia. Participei de exposições em ambiente fechado e em praça pública. Classifiquei-me num concurso na Bahia. Publiquei fotos ilustrativas em livros. Hoje desenvolvo projeto de convergência entre poesia e foto (fotopoema). Ao ver-me diante de um objeto a ser fotografado, experimento quase sempre uma relação tensa com esse objeto. Procuro então traduzir essa tensão em linguagem fotográfica. Trata-se, às vezes, de uma semelhança concreta com algo que me afeta. Outras vezes é apenas uma sensação: de mistério, de transcendência, de incompreensão, de encantamento, de medo, de alegria… Fotografo especialmente na região de Brumadinho-MG. A foto selecionada, uma casca de macaúba, me evoca, especialmente, incômodo.
SEM TÍTULO
Lígia Maria Cerri
Pôr do Sol no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros que se localiza na região noroeste do Estado de Goiás, a 230 km de Brasília. Impressionaram-me muito as cores quentes e vibrantes que encontrei na fotografia deste local mostrando um pôr de sol tendo como primeiro plano os galhos secos e retorcidos do cerrado da região centro-oeste.
Gosto demais das cores quentes pois transmitem alegria, calor e descontração. Despertam sorrisos. Por isso resolvi passar para a tela, a bela foto que encontrei.
TEIA DE AFETOS
Ione Lucia Florencio
“Quando me deparei com essa teia de aranha me surpreendi pelo seu tamanho e desenho. Uma verdadeira arte da natureza que não pude deixar de registrar. Uma teia de afeto construída com muita delicadeza e dedicação. Inspiração de vida ! ”.