
O Prêmio Nascente, criado pela Pró-reitoria de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo em 1990, realiza sua 30o. edição no Centro Universitário Mariantônia. O Prêmio estimula a produção artística e cultural de estudantes no cenário criativo das artes, na expectativa de gerar oportunidades.
A Mostra de Artes Visuais exibe trabalhos de 29 artistas, resultado da seleção criteriosa entre 143 inscritos, nas diversas subcategorias: desenho, escultura, fotografia, gravura, instalação, pintura, vídeo. São vinte e cinco trabalhos bidimensionais, sete objetos, uma performance e três vídeos, tendo o predomínio da pintura como linguagem artística e a inexistência de obras de criação coletiva.
O conjunto de trabalhos selecionados está disposto, no espaço expositivo, em três instâncias – abstratos, corpos, paisagens. Como produção de subjetividade, essa distribuição provoca um diálogo com experiências do cotidiano. Ou seja, há um (re)arranjo emergente de possibilidades enunciativas que estrategicamente promovem (re)inscrições do sujeito no mundo.
Diante da abrangência representacional, a intensidade da cor destaca-se nas obras além da experimentação criativa de materiais e suportes, propondo alternativas de (re)usos, como produção de efeitos, que se desdobram entre madeira, papel, pedra, plástico, tecido, entre outros. O que coloca a presente exposição em sintonia com as principais questões levantadas pela cultura e pela arte contemporânea.
Fábio Lopes, Geraldo Dias e Wilton Garcia
Vaga
Vaga é uma fotografia impressa em papel couché na escala 1:1 que reproduz a imagem da vista superior de uma vaga de estacionamento rotativo em uma das ruas de São Paulo. A escala real nos dá a dimensão do espaço reservado para o uso do automóvel nas ruas.
Ruas do Rio de Janeiro
O vídeo reune desenho-performances feitas entre os anos 2018 e 2022 na cidade do Rio de Janeiro. A primeira cena foi na Rua Conde de Bomfim n° 155 no bairro Tijuca. A segunda na Avenida Nossa Senhora de Copacabana n° 74 no bairro Copacabana. A terceira na Rua Campos da Paz n° 12 no bairro Rio Comprido, e a quarta na Rua Itapiru n° 126 também no Rio Comprido. Pintei desenhos anamórficos com sigilo tomando cuidado dos carros, da polícia, e dos moradores. O registro dá-se através do site de câmeras de vigilância www.camerite.com e com câmeras web colocadas em janelas de quartos onde morei.
Mercado libanês
A pintura tem 1,80 por 1,80 metros. Mercado libanês é pintado sobre tecido de tela e sustentado por duas ripas.
Rostos 1, 2 e 3
A série é composta por três retratos de pessoas pretas, dois homens e uma mulher, de dimensões iguais.
Bichão
Estrutura de tela de galinheiro, papelão, arame e madeira, revestida por estofamento e tecido estampado em serigrafia, 350x130x155cm.
Tristes Trópicos; Necropaisagem; Terra insólita
A série “Necropaisagens” reflete sobre aquilo que está materializado no espaço, decorrente da história brasileira desde o período colonial. Nos trabalhos, foram realizadas associações entre imagens e palavras usando expressões para descrever contradições da cultura brasileira. As pinturas foram produzidas a partir de imagens capturadas do percurso do presidente Jair Messias Bolsonaro para a cerimônia de posse realizada no dia 1o de janeiro de 2019 em Brasília. A ideia dos trabalhos surgiu da percepção de que a paisagem devastada percorrida pelo presidente anunciava toda a crise institucional, econômica, política, ambiental, sanitária e ética vivida durante o mandato (2019 – 2022). As paisagens descarnadas representadas e associadas às palavras são como uma possível contramemória para as narrativas oficiais, e buscam evidenciar o arruinamento da paisagem e institucional brasileiros.
Paisagem Natural
A pintura tem 1,80 por 1,80 metros. O trabalho Paisagem natural é feito em uma lona plástica e sustentado por duas ripas de madeira.
re_plica vocalis
re_plica vocalis experimenta com distintas formas de representação da voz humana. Seja no contexto de uma oração religiosa ou da especulação científica, a obra usa sons, textos e imagens para revelar o processo de síntese e emergência de um “coro humano-máquina”. Sintetizados utilizando aprendizado de máquinas, os sons complementam uma experiência audiovisual inquietante que se vale de (dis)sincronias dinâmicas entre as mídias utilizadas.
Para criar o material sonoro, treinou-se uma rede neural artificial em 2 horas de canto coral polifônico. Para as imagens digitais, utilizou-se um conjunto de dados de imagens de endoscopia, que posteriormente foram superdimensionadas para produzir cores mais matizadas.
Díptico composto de duas colagens sobre aquarelas em papel de algodão.
Série Lambes 1: “Lambe Base 1”; “Lambe C.”; “Lambe c.”
A obra gerada é parte de uma série de obras produzidas em sequência durante o ano de 2022. Ela faz parte da primeira série produzida por mim, e é composta por: “Lambe Base 1”, um lambe maior, que nada mais é que a base dos lambes subsequentes; “Lambe C.”, que é a origem da ideia da série e “Lambe c.”, que é um pedaço do lambe original. Essas folhas se chamam “lambes” porque para a produção da pintura, as folhas médias (lambes originais – ex: “Lambe “C.”) encostam sutilmente na folha base (maior), como se a estivesse lambendo, transferindo a tinta da folha maior para a folha menor. O lambe menor (“Lambe c.”) foi um lambe original dividido em 8, para fins artísticos. Eles são nominados pela consoante “c”, porque foram produzidos para a mesma pessoa. Nesse sentido, cada lambe original (médio) representa uma identidade, uma pessoa e, por isso, seu título possui sua inicial.
Silvia; Rica; Bruno
A tríade protagoniza a pele negra sobreposta a uma quantidade ostensiva de joias e adereços ou nudez, “incompatíveis” ao seu cotidiano – de acordo com a logica colonialista europeia. Dessa maneira, tendo em vista que segundo o IBGE, a população negra representa 56,1% dos brasileiros e três quartos das pessoas mais pobres do país, a série de obras busca direcionar o telespectador para quais tipos de ocupações, estilos de vida e tendências que pessoas de pele escura estão seguindo (ou não).
Escultura Gestural 1; Poema Modular; Poema de Linha 2
Escultura Gestural 1 é de madeira pintada e retrata a linha fluida do gesto cursivo que se tornou um objeto sólido estacionário, quase arquitetônico. Duas linhas em loop conectadas que criaram um movimento que incorporava o floreio de uma caneta. Os blocos pintados criam uma dinâmica rítmica dentro da peça. Poesia Modular é uma pintura modular. As peças podem ser organizados em várias configurações diferentes para criar diferentes versões do poema visual. Poesia de Linha 2 é uma pintura de acrílico sobre algodão cru. Ela foi feita com a ideia de ser lida como um equivalente visual da música.
Série “Antes do Loop”: MM_3; SD_I_v1
São 5 pinturas realizadas entre o final de 2022 e os primeiros meses de 2023, como parte da minha pesquisa de doutorado
Aqui me protejo
Percorrer a paisagem, acompanhando as saliências e reentrâncias que a formam, seus súbitos mergulhos na escuridão da noite, e seu aparecimento tímido por trás da névoa branca nas primeiras horas da manhã, durante muito tempo, era marcar o tempo entre o instante da partida e o da chegada. Ansiava para que as horas caminhassem a passos largos e considerava esse momento de trânsito como um hiato no tempo, uma espécie de vazio. Quando tomei consciência que as formas que permaneciam eram justamente as que meu olhar colhia durante o percurso, entendi a potência da paisagem como lugar de entre-espaço, ligação e conexão. Julguei que a morada – local de permanência – localizava-se sempre nas extremidades (partida ou chegada) até compreender que era possível também habitar no percurso.
Índice
Cacos, estilhaços de algo que não se define o que foi. Apresento esta montagem site specific de Placas, uma série com 5 conjuntos de trabalhos em gesso pigmentado, que foram deixando fragmentos, estes que monto a revelia das partes originais.
Crisântemos
O tríptico retrata fases da vida da flor do crisântemo estampado com a técnica do estêncil sobre tecido de lona de algodão.
Autorretrato (nu noturno)
Autorretrato (nu noturno) é resultado de um interesse particular sobre o gênero do retrato, em todos os âmbitos. Desde aspectos formais, como composição, técnicas diferentes de pintura a óleo, quanto da construção da aura do retratado, explorando tal clima através dos recursos de luz e sombra.
Luz Primária; Amelinha apareceu na reportagem
As pinturas aqui escolhidas buscam, através dos contrastes de cor e da forma irregular do suporte, compor uma espacialidade virtual expandida. A repetição dessas características cria um universo comum, manifesto em todas as obras, como cenas isoladas de um mesmo cenário metafísico.
Pé de chinelo
Na obra “Pé de chinelo”, há a representação tridimensional em gesso de um pé calçando um chinelo de borracha com a bandeira do Brasil. Tanto o pé quanto o chinelo são pretos. Neste trabalho, além da representação direta impulsionada através do título, há o confronto sociocultural estabelecido pela antiga expressão popular “pé de chinelo”. As questões em torno deste símbolo nacional – o chinelo – revelam, a partir da análise da história brasileira, a perversa maleabilidade semântica adquirida em detrimento do corpo que o veste.
Se piscar já era
Se Piscar já Era: um salto mortal perturba a paisagem. Pintura em tinta acrílica sobre tela previamente pintada a óleo.
Vento
A obra Vento é uma gravura do tipo monotipia sobre papel canson. As formas arredondadas ressurgem do escuro conforme a tinta é tirada da matriz de metal. Criam tridimensionalidade em aglomerados de brancos no papel marcado pela tinta preta. As marcas das cerdas do pincel ao fundo dão a sensação de movimento a imagem como se a gravura fosse um instantâneo, capturando as formas prestes a se transformar com o levar do vento. As inúmeras tonalidades de cinza que se sobrepõe exigem do expectador um olhar atento e sensível. A obra convida a atenção aos pequenos momentos prestes a se desmanchar no ar.
Pauceta
Pauceta foi pensada a partir do pensamento de subversão à tradição de segregação sexual e de gênero. Um órgão sexual não-binario, modelado a partir de plastilina e molde de silicone. O material final desse exemplar é o gesso. Mas foi pensado para replicação em cimento e dispersão na cidade em locais que sirvam de palco para a reflexão sobre a violência contra a comunidade LGBTQIA+ e pessoas não-binárias.
Asfalto
Pintura realista de uma pomba atropelada, fundo preto.
Análise de protuberâncias imaginárias
Análise de protuberâncias imaginárias: a obra é um díptico, realizado em grafite sobre algodão cru. Partindo do interesse pelo enlace constante da decomposição e da vitalidade das coisas do mundo, investiga o caos organizado do orgânico. Explora contrastes de linhas e massas, afiado e macio, ordem e caos.
Ruína
Ruína é uma escultura de concreto que cria o cenário de uma construção humana destruída pelo tempo. Na superfície dessa construção se encontram pinturas de paisagem do Rio de Janeiro e de uma cena da 2ª Guerra Mundial.
Charque
A obra inscrita faz parte de uma produção recente na qual tenta-se discutir o poder das imagens na arte e suas influências na sociedade contemporânea.