Em sua 28ª edição, o Programa Nascente acolheu mais de setecentos trabalhos. Somente na categoria Texto, recebemos 318 inscrições, distribuídas entre Crônica (38), Prosa Ficcional: conto, novela e romance (127), Poesia (150) e Reportagem (3). Inicialmente, esses dados sugerem a grande responsabilidade atribuída à Comissão Julgadora, do ponto de vista quantitativo e qualitativo.
A exemplo do que observamos em outras edições do programa, não foi tarefa fácil, nem simples, ler todos os materiais dispostos em variados gêneros, temas e estilos. Há que se considerar, também, que selecionar os melhores trabalhos e indicar os finalistas é um processo lento e criterioso que demanda máxima atenção, durante a leitura dos textos, o estabelecimento de critérios e a tomada de decisão quanto aos resultados.
Em 2020, face à pandemia do Covid-19 e seus terríveis efeitos, o programa não foi editado. Por outro lado, constatamos que temas relacionados ao confinamento, à solidão e ao isolamento frequentaram grande parte dos textos, o que confirma o diálogo entre as produções e os contextos em que foram produzidas.
Dito isso, sentimo-nos orgulhosos em completar a jornada. Registramos com satisfação o interesse crescente dos autores inscritos na categoria Texto, sobretudo porque eles permitiram detectar a qualidade dos trabalhos submetidos. Esperamos que o Nascente continue a estimular a produção de novos autores, com a expectativa de que ajudem a ocupar e promover a cultura, também como forma de lucidez e resistência, frente ao que aí está.
Comissão Julgadora da Categoria de Texto
Na trajetória universitária/acadêmica de qualquer estudante, independentemente de sua área ou de seu curso, há uma mobilização intensa de saberes, reflexões e conflitos. Essa produção de dilemas, contudo, muitas vezes gera necessidades outras que, quando não são traduzidas em anotações digressivas na marginália dos livros, fluem no pensamento distraído. Escapar ao regime de escrita próprio de papers e relatórios científicos é um exercício relativamente comum a graduandos e pós-graduandos, em variados momentos de sua vivência. A aventura em busca de uma voz literária, seja na prosa ou na poesia, também não é tarefa que se despreze: há profunda pesquisa nisso. Talvez a atual situação pandêmica – que demarca um triste ineditismo em nossas vidas – tenha sido o momento privilegiado para a dedicação a esses outros projetos, capazes de impulsionar a construção de outras formas ou realidades.
Como ouvinte da categoria de textos no Programa Nascente, pude conhecer a vasta produção literária dos colegas. De autores iniciantes aos mais profícuos, a diversidade de experiências com a escrita aponta para um caminho: a heterogeneidade do corpo discente no que tange a estratégias narrativas e construções poéticas. Há quem convoque o próprio corpo pra jogar, há quem convoque o corpo do outro. Há quem queira provocar em termos macropolíticos, há quem prefira o embate consigo – e que também não deixa de ser político. Há quem delineia referências e intertextualidades bem marcadas, há quem as informe nas entrelinhas. Há de tudo um pouco e quase tudo, contemplando o tamanho da Universidade de São Paulo.
Na prosa e na poesia finalistas (incluindo vencedores e menções honrosas), encontramos algo que desperta a vontade leitora – um arrepio, um riso, um incômodo…textos que nos apresentaram alguma inovação e maturidade dentro do exercício literário. Espero que os autores aqui reconhecidos sintam-se motivados a dar continuidade a essa aventura que, habitando a intersecção com a formação acadêmica, fica ainda mais instigante.
Bianca Gonçalves
Mestra em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e poeta.
Emerson da Cruz Inácio
Emerson Inácio, professor da área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da FFLCH desde 2006, é Livre Docente pela USP (2016) e doutor em letras vernáculas, pela UFRJ (2006). Publicou “A herança invísivel”(EdUEA, 2013) e “Retratos do Brasil Homossexual (EdUSP/Imprensa Oficial 2010), bem como artigos e ensaios em revistas brasileiras e estrangeiras. Desde seu mestrado (UFF, 1999), dedica seus interesses de pesquisa sobre as questões das sexualidades, dos gêneros identitários e, mais recentemente, sobre raça-etnia (afrocentricidades), em particular aquelxs autorxs marcados multiplamente por signos da diferença, com ênfase para as relações entre as afrodescendências e as sexualidades.
Jean Pierre Chauvin
Jean Pierre Chauvin é Professor Associado da ECA (USP), onde leciona e pesquisa Cultura e Literatura Brasileira (Colônia / Império /República. É autor de O Poder do Avesso na Literatura Brasileira (Annablume, 2013).
Maria Célia Pereira Lima Hernandes
Professora Doutora pela Unicamp em Linguística Teórica, com qualificações em Linguística Histórica, Linguística Antropológica e Sociolinguística. Livre Docente e Titular pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH/USP). Desde 2003 é professora do Curso de Língua Portuguesa da FFLCH e desde 2006 é Professora no curso de pós-graduação em Filologia e Língua Portuguesa (USP). Líder do Grupo de Pesquisa Linguagem e Cognição. Pesquisadora com destacada produção sobre a sociocultura chinesa.