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Alcides Freire Melo


Esperança da vitória

O fotojornalismo é, pra mim, a mais precisa forma de comunicação. Em P&B, particularmente, a imagem mostra as cores da dor e de vitórias. Por ser universal, “fala” todos os idiomas e os mais complexos dialetos.
Encontrei na fotografia a possibilidade de “manipular” o tempo e, em avos de segundos, eternizar histórias. A câmera fotográfica seria como o teclado de um computador para um escritor e, semelhante aos corretores de textos dos escritores, elas, as câmeras, também não criam personagens, não compõem. Sozinhas, não contam histórias, não emocionam, não informam, não sabem sobre saudades, paixões, solidão ou viagens.
“Vivendo” em tragédia, agora durante a pandemia provocada pela Covid-19, por exemplo, não sabem de dor, vazio, solidão e perdas de vidas. O fotojornalista, sim. Precisa ter a capacidade de “capturar” todos estes sentimentos e transformá-los em milhões de pixels, para denunciar, fazer chorar, indignar ou sorrir.
Quando fui informado sobre a segunda edição do concurso fotográfico O Olhar do 60+ da USP, saltei a janela do topo da clausura provocada pela pandemia e fui parar no telhado da minha casa. A percepção de vazio e abstrato era enorme e, lá do alto, a incerteza estava retroalimentada por pessoas que fugiam para lugar nenhum ao encontro de ninguém.
O “formato” da minha foto, sem horizonte, e minha sombra esquálida, projetada à esquerda, guiam ao vazio, a uma corrida circular praticada por muitos em fuga desorientada da Covid-19 que provoca medo, quiçá a morte. É também a fotografia da esperança do topo e da vitória.