
Este é o segundo ano consecutivo que fazemos a seleção e a premiação dos trabalhos de artes visuais para o Nascente USP. Como na edição anterior, notamos que a maioria das obras selecionadas apresentam uma elaboração instigante dos conteúdos presentes no que seria o panorama artístico contemporâneo. Apesar da maioria das produções não apresentarem discursos políticos explícitos, podemos perceber formas que aludem a um estado de precariedade e ansiedade, que, sem dúvida, conectam-se com a experiência cotidiana vivida pelos estudantes de escolas públicas.
Compreendemos que um dos objetivos principais deste projeto é o de incentivar e valorizar a produção nascente da universidade, mas achamos importante destacar que a manutenção do estatuto público da universidade como forma de promover a liberdade – não só artística mas também intelectual – é crucial para que iniciativas como esta possam existir. Ultimamente, a liberdade de expressão dentro e fora do campus está sendo ameaçada de novo. Cortes e exonerações nas universidades só fazem reproduzir os atos de violência perpetrados contra instituições públicas e privadas. O enredo oficial nos conta que isso acontece devido à famosa e atávica falta de verbas. Entretanto, a história recente reitera que o problema, na realidade, não é econômico mas político.
Terminamos nossa breve apresentação como no ano passado, citando o artista Paul Klee. Desta vez, evocamos seu anjo que inspirou Walter Benjamin a escrever uma das “Teses para o conceito de história”. Assim como o referido anjo, tememos o vento deletério que sopra de maneira violenta, “acumulando incansavelmente ruína sobre ruína” e que vem sendo trombeteado pelos nossos governantes como progresso.
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
Após o clarão das tochas nas caras suadas, após o gélido silêncio nos jardins, após a agonia nos lugares rochosos. O grito e o choro, prisão e palácio e reverberação do trovão da primavera na montanha distante. Ele, que estava vivo, está morto. Nós que estamos vivos, estamos morrendo com um pouco de resignação.
Aqui não há água, apenas rocha. Rocha e nenhuma água e a estrada arenosa. A estrada que vai por sobre as montanhas, que são montanhas de rocha sem água. Se tivesse água, pararíamos e beberíamos. Por sobre a rocha ninguém se detém ou pensa. O suor está seco e os pés estão na areia. Se aqui só houvesse água na rocha: montanha morta de boca cariada que não pode cuspir. Aqui de pé não se fica, ou se deita ou se senta. Não há nem silêncio na montanha, mas o estéril e seco trovão sem chuva. Não há nem solidão na montanha, mas caras vermelhas que espreitam das casas de barro. Se houvesse água. E nenhuma rocha. Se houvesse rocha. E também água. Uma nascente. Uma poça por sobre a rocha.
Se houvesse apenas o som da água, não a cigarra e a grama seca cantando mas som de água por sobre a rocha, onde o canário canta no pinheiro
drip drop drip drop drop drop drop
mas não há água.
disparate (confusão) tinta a óleo sobre tela preparada | 16 x 44 cm | 2018
detalhe de disparate (confusão)
mangue tinta acrílica sobre tela e madeira | 290 x 165 cm | 2019
detalhe de mangue
Sem título (porta do cemitério) tinta a óleo, acrílica e tecido sobre madeira montada | 205 x 190 cm | 2017
Unidade de ensino: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH)
Curso: Letras
A série, em tinta acrílica sobre embalagens de papelão – pizza, kebab, aparelho televisor –, dialoga com essa grande tradição que é pintar peixes; das naturezas-mortas da barroca flamenga Clara Peeters às de Marsden Hartley, passando pelas campanhas de incentivo ao consumo de peixe da primeira metade do século XX e por William Merritt Chase. E, é claro, pela decoração de restaurantes de frutos do mar.
1# da série Alguns Peixes tinta acrílica sobre papelão | 48 x 42 cm | 2019
2# da série Alguns Peixes tinta acrílica sobre papelão | 38 x 41 cm | 2019
#3 da série Alguns Peixes tinta acrílica sobre papelão | 34 x 42 cm | 2019
#4 da série Alguns Peixes tinta acrílica sobre papelão | 35 x 39 cm | 2019
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
O trabalho parte da observação de paisagens, explorando a forma das plantas através da pintura, na qual adquirem cores e formas que naturalmente não lhes pertencem, enquanto por outro lado, aproxima-se novamente do tema abordado através do material utilizado em sua composição, a madeira.
Sem título têmpera sobre compensado | 81.4 x 66.3 cm | 2019
detalhe de Sem título
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
Os vivos são distinguidos dos mortos pelo cão. É preciso pedir autorização para passar. Do outro lado esperam aqueles que morreram. Cão é uma gravura composta pelo enfrentamento entre dois corpos que caem de boca engolidos pelo espirito do cão devorador, que fareja um resquício de carne prestes a ser arrancada.
Cão tinta calcográfica sobre metal gravado | 200 x 150 cm | 2019
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detalhes de Cão
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
O Menino-Mosca gira sobre seu próprio eixo. Sua maquilagem de superfície confere uma fachada mais amigável no lugar da decomposição orgânica do látex. A cabeça deformada pelo próprio peso não fixa o olhar no passado, nem no futuro. Este anjo da história – Angelus Contemporaneus – não diferencia o passado do futuro, “seu semblante está voltado para o passado” e para o futuro, cambiando vertiginosamente entre os dois, de maneira a frequentemente misturá-los. “Essa tempestade que chamamos progresso”[1] acabou por agitar as asas que pendem flácidas para baixo, animando esse anjinho barroco para fora da decoração eclesiástica. Não parece ser mais cabível pensar, hoje em dia, no vento do progresso como essa força unidirecional. Estamos agora no meio de um vendaval desordenado, que faz o anjinho girar. Frente e trás tomam o lugar um do outro em um contínuo embaralhamento de passado e futuro, de desastre e “progresso”.
[1] BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 2012. p.246.
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Menino-Mosca tinta a óleo e acrílica sobre látex | 43 x 23 x 23 cm | 2018
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
Há algo de ridículo no poder. Todas aquelas formalidades artificiais, protocolos, pratarias e badulaques que legitimam a condição de supremacia – seja ela conquistada por méritos questionáveis ou imposta. Não deixa de ser uma teatralidade do poder, que surge como representação de força até nos impérios mais falidos. Removendo todo o aparato cênico, resta sobre uma singela cadeira de madeira, alongada e esquálida, uma figurinha pífia, quase patética. Na altura do olhar do espectador-súdito, exigindo até algum esforço visual para notá-lo, ele se empertiga em postura inquisidora. A impressão de que um tabefe derrubaria facilmente a estrutura delicada confronta-se com a soberania da efígie que ali se encontra. Mas quem o colocou lá? Quem o mantém naquele lugar? Que forças invisíveis são essas que ainda o sustentam de pé? Por quanto tempo? A que custo? Tá pensando que é o reizinho?, desafiam as crianças, questionando com naturalidade posições autoritárias dentro do bando. Aqui, a provocação ingênua intitula o trabalho como amplificação do desconforto com o poder.
Reizinho madeira e figura de polietileno escala 1:100 | 170 x 5 x 5 cm | 2019
detalhe de Reizinho
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
O ensaio fotográfico intitulado O silêncio é um lugar é composto por 5 imagens de 25 x 25 cm, produzidas no ano de 2018 durante intercâmbio estudantil realizado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) em Newcastle, Reino Unido.
Trata-se de uma síntese, através da fotografia, das dificuldades de interação social enfrentadas pelo autor ao longo da experiência, ainda que a receptividade local tenha sido positiva. O trabalho, desenvolvido durante os últimos meses vividos no exterior (período em que questões relacionadas à depressão já haviam se tornado críticas e impregnado o processo criativo), foi uma das formas buscadas para estabelecer um diálogo com o espaço bem como representar visualmente o sentimento de isolamento.
Os locais capturados no ensaio são um breve registro do trajeto percorrido diariamente entre a residência e o campus universitário, onde o silêncio e a ausência humana foram aspectos marcantes, refletindo diretamente na vivência introspectiva do autor.
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Sem título #1, #2, #3, #4 e #5 da série O silêncio é um lugar impressão digital sobre Rag Baryta Hahnemühle 310g | 25 x 25 cm | 2018
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
Vaporosa é um livro de fotografia que propõe o atravessamento de cenas e cores por meio das transparências do papel e da impressão, que se desencadeiam em um só fôlego com a encadernação sanfonada.
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Vaporosa impressão digital sobre papel vegetal | 21 x 120 x 14 cm | 2018
Unidade de ensino: Faculdade de Direito (FDUSP)
Curso: Mestrado em Filosofia e Teoria Geral do Direito
São em momentos como esses que fotografia, como uma forma de arte, se mostra uma ferramenta importante e útil para narrar acontecimentos e também para instigar reflexões por trás das realidades construídas antes mesmo das fotos.
Um incêndio consumiu mais de 600 casas no dia 17 de dezembro de 2018 no bairro de Educandos na cidade de Manaus. Esse acontecimento revela mais do que um incidente. Expõe, na realidade, uma rotina, um modo de operação do Estado e o cotidiano, em alguma escala, de práticas sociais.
Não se pode falar em tragédia ou crime, pois a causa do evento é desconhecida. O que se pode falar é que o Estado não opera de forma preventiva, mas sim omissa. Na realidade nem sabemos se o Estado opera de fato, dentro do contexto nacional.
O sentimento é de que sua atuação, quando existente, é realizada, primordialmente, para estruturas superiores, que não possuem casas de palafita nem vivem em condições precárias.
Esse palpite combina muito bem em como os governos, principalmente o recém empossado, e como algumas partes da sociedade operam:
Vamos torcer para dar certo.
Claramente não dá.
Torna-se oportuno avaliar criticamente o alcance do mecanismo jurídico como um discurso de poder, quando, em verdade, o espaço que a lei ocupa é apenas uma manifestação de ordem simbólico e a subjetividade humana transforma-se apenas em um objeto para atingir determinados fins. Até uma real mudança de paradigmas a arte continua denunciando o poder e suas estruturas.
#2 da série Educandos e o Estado fotografia digital | 42 x 59,4 cm | 2018 / 2019
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#3, #4 e #5 da série Educandos e o Estado fotografia digital | 59,4 x 42 cm | 2018 / 2019
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Mestrado em Poéticas Visuais
O trabalho apresentado faz parte de uma série de gravuras em metal realizadas a partir da observação direta da realidade objetiva. As gravuras foram produzidas observando os arredores da oficina da artista sem desenho prévio ou esboço sobre o papel. A aplicação dos vernizes e desenho sobre a prancha de cobre foram feitos no próprio lugar escolhido para ser observado, retornando à oficina somente para realizar os sucessivos banhos no mordente. A técnica utilizada é a água tinta, procedimento da gravura em metal em que a gravação é feita utilizando sais ou ácidos para a corrosão da chapa (morsura indireta) após a aplicação de uma resina orgânica protetora (breu). O resultado do procedimento é uma superfície gravada reticulada, formando manchas com variações tonais.
Entre os aspectos estéticos e poéticos dessa escolha está a busca por uma representatividade visual mais dinâmica e aberta, a partir do estudo atento dos caminhos e movimentos da luz no ambiente e sua consequente interpretação simbólica dentro do universo gráfico.
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Elemental #1 e #2 da série Cecília água tinta sobre papel Hahnemühle - P/A | 49.2 x 37 cm | 2018
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
Uma grande faixa de cartazes (120 x 600 cm), realizada sobre folhas de papel jornal A2 unidas por fita adesiva, feita a partir da impressão variada de uma mesma matriz serigráfica, cujo manuseio se deu de maneira livre, sem que estivesse presa a uma mesa de impressão. Desse modo, a matriz funciona, para o processo do trabalho, como uma espécie de gabarito móvel, um padrão construtivo capaz de gerar diferentes imagens, de acordo com o desenho executado, no momento de impressão, com estopa e tinta gráfica diluída. A projeção do trabalho consistiu, portanto, na elaboração de uma estampa que dispusesse de elementos que garantissem, para as impressões mais discrepantes, sua conformidade, sua fisionomia comum. Foi, por fim, um trabalho realizado a partir do emprego de materiais que rapidamente adquirem dimensão pública: a imprensa gráfica de grande escala; a exposição da identidade de um suposto inimigo – tais são os temas desta monotipia.
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Espião Procurado - nº 1 monotipia sobre papel jornal | 120 x 600 cm | 2018
detalhe de Espião Procurado - nº 1
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
Um território pode ser dividido de diversas maneiras: em linhas, imaginárias ou físicas, por muros, fronteiras, mapas. O que importa é que todas as partes acordem em aceitar essa divisão fictícia. A maior densidade demográfica do país é a da favela de Paraisópolis, na região sul de São Paulo. São 45 mil habitantes/km², espremidos em moradias precárias. Sua população é composta majoritariamente por pretos ou pardos, 65% do total. A lógica perversa da ocupação espacial da metrópole é reproduzida cartesianamente em Bordas, ao investigar a construção do urbanismo como reprodução de privilégios em acordos silenciosos. Tão aleatório quanto nascer, o trabalho sugere que o público tome uma ficha de duas possíveis cores, garantindo acesso a um espaço designado. O centro emula o tom de pele branco médio; as bordas emulam o tom negro médio. Caminhando por ele, com seus corpos friccionando-se no aperto periférico ou se regozijando do espaçoso centro, entende-se o determinismo da cor da pele na distribuição territorial brasileira.
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Bordas lona, tinta em tons de base cosmética para pele branca médio e negra médio, madeira e spray | dimensões variáveis | 2018
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
Objeto relacional nº2: esse é pra quem gosta de lamber bota de milico é uma réplica de um cassetete modelo tonfa, reproduzido em borracha de silicone preta e arame. O seu formato mole impede a maneira usual de utilização de tal objeto. É permitido o toque pelo público.
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Objeto relacional nº2: esse é pra quem gosta de lamber bota de milico silicone, látex e arame | 60 x 29 x 3 cm | 2019
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
Investiga-se o uso de impressões publicitárias destinadas aos pontos de ônibus de São Paulo como suporte. Por meio da falta de cobertura em diversas partes, quer-se discutir como os espaços públicos de transporte são utilizados para fins, quando se discute mobilidade e cidadania, inúteis. Úteis somente quando analisado em uma perspectiva mercadológica.
Ao pintar sobre o painel, atividade que não possui, à priori, qualquer valor na organização do trabalho hoje – somente adquirindo-o por meio da reificação e especulação quando inserido no mercado, ou quando lhe é dado posteriormente valor histórico – joga-se com esta ideia do inútil/útil em diferentes perspectivas.
O título refere-se ao verso de Salve Geral, da banda Aláfia. A música, parecida com um manifesto, entra como uma posição política clara. Capitão, no último processo eleitoral, adquiriu uma potência de referência a Bolsonaro, que por sua vez, é símbolo de uma onda política de resquícios fascistas movimentada por agentes que pautam suas ações integralmente na lógica do mercado que perdeu seu pudor, atropelando qualquer interesse de um bem público ou comum.
Decapitaremos o teu Capitão tinta acrílica e esmalte sobre papel impresso | 240 x 350 cm | 2019
Ainda que não configurem uma série, Trovoa e Sem Título, dentro de suas particularidades, são frutos de um mesmo desenvolvimento em 2019.
Partindo de Peter Doig, Luc Tuymans, Mamma Andersson e Eduardo Berliner como referências comuns, retroativamente pode-se afirmar que o interesse comum que parte delas é um estranhamento. Parece que há algo de estranho ou perturbador em Cabin Essence e Daytime Astronomy de Doig, ou nos retratos e recortes de Tuymans – Der Diagnotiche Blick IV e Der Archtekt, e nos interiores de Mamma Andersson (Side by Side) e em Family Ties. Já nas pinturas de Berliner o estranhamento e perversão se dão de maneira mais positiva.
Desta maneira, Trovoa e Sem Título são pinturas que tentam articular a questão do estranhamento e da perversidade negativa dentro de temáticas orgânicas como a paisagem ou a natureza morta.
Trovoa tinta acrílica, óleo e pastel oleoso sobre tela | 168 x 179 cm | 2019
Sem título
tinta acrílica, óleo e pastel oleoso sobre tela | 168 x 123 cm | 2019
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
Os trabalhos selecionados Sem título I e Sem título II partem da vontade de dar forma à imagens através da prática da pintura (têmpera ovo e acrílica) sobre madeira e isopor, buscando-se articular as intenções representativas e as especificidades dos materiais e procedimentos utilizados em cada trabalho.
Sem título I da série Sem título têmpera sobre madeira e tinta acrílica sobre isopor | 120 x 130 x 8 cm | 2018
Sem título II da série Sem título tinta acrílica sobre madeira | 73 x 87 x 4 cm | 2019
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
Catraquinhas da General Jardim mostra a paisagem urbana a partir de um estranhamento entre as várias possibilidades do real. A pintura contrasta diretamente as formas subjetivas e as mais objetivas do cotidiano, que se concretizam pelos espaços vazios – resultado da transparência da lona – e por uma atenção às possibilidades que o espaço urbano pode propor para a experiência visual.
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Catraquinhas da General Jardim tinta acrílica e esmalte sobre plástico | 197 x 219 cm | 2019
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
Pintura elaborada junto a experimentações com percloreto de ferro sobre ferro galvanizado, provocando uma cor saturada, própria do ferrugem. A degradação da paisagem em rejeitos ferrosos reutilizados é resultado de uma vivência que testemunhou as agressões ao espaço e à terra promovidas pela exploração do ferro em Mariana (MG).
Fe² percloreto de ferro e esmalte sintético sobre ferro galvanizado | 30 x 121 cm | 2019
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
Dois cachorros pulguentos e vira-latas. Um deles com seu olhar triste no meio da sujeira enquanto o outro mija numa lata de lixo. Do reinado de ouro, o velho mundo, é de lá de bem distante que esses cachorros vêm: Rômulo e Remo. Pintura executada em compensado de madeira 110 x 140 cm, com esmalte automotivo e tinta acrílica.
Rômulo e Remo tinta acrílica e esmalte automotivo sobre compensado de madeira | 110 x 140 cm | 2018
Unidade de ensino: Escola de Comunicação e Artes (ECA)
Curso: Artes Visuais
O trabalho Família Verde é uma série de pinturas, acrílica sobre papel fotográfico, que aparentariam pertencer a algum álbum de família, não fosse o fato da pintura sobre elas combinar às suas cenas uma figura de cor verde, a interagir de forma ordinária com as pessoas retratadas.
Devido ao fato da tinta acrílica apresentar um tratamento com textura, em oposição à uniformidade do papel fotográfico, a naturalidade com que as pessoas interagem com esta estranha figura, assume-se enquanto construída, externa, ao mesmo tempo que ela volta a se inserir na imagem ao respeitar noções de claro escuro, escala e de composição da cena. A naturalidade desta interação, ora imagem ora sobreposição, na junção entre fotografia e pintura, sugere tanto um mundo à parte, em que figuras desta natureza possam existir, como também não, quando a textura da pintura delicadamente insinua sua adição posterior, tornando a figura verde um efeito cômico direcionado às pessoas que tira proveito do irremediável congelamento proporcionado pela fotografia.
Desta maneira, a pintura parte da fotografia, primeiro, pelo seu poder de registrar, repor situações e causar nostalgia, para, depois, retirar sua credibilidade enquanto lembrança fiel: o fotográfico passa a usufruir do mesmo estatuto ficcional do pictórico, quando este se beneficia mais da ausência da realidade daquele, através de sua materialidade enquanto objeto, do que da sua capacidade em repô-la.
#1 da série Família Verde tinta acrílica sobre papel fotográfico | 12.3 x 8.9 cm | 2019
#2 da série Família Verde tinta acrílica sobre papel fotográfico | 7.8 x 22 cm | 2019
#3 da série Família Verde tinta acrílica sobre papel fotográfico | 8.2 x 11.6 cm | 2019
#4 da série Família Verde tinta acrílica sobre papel fotográfico | 8.2 x 11.6 cm | 2019
Unidade de ensino: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH)
Curso: Letras
Com a série Recortes, quis representar, por meio de duas pinturas feitas à base de aquarela, o permeio de trechos que muitos alunos fazem para chegar até à Universidade de São Paulo.
A partir de fotografias desses trechos, a primeira pintura da série, Segurança, retrata uma das entradas para o HU (Hospital Universitário), que se encontra cercada por câmeras. Tais componentes como a cerca, os postes e as câmeras não são pintados de propósito a fim de que, por meio da delimitação de tais objetos fantasmas, possa se perceber o impacto visual tão bem como a interferência que as obras tecnológicas transferem dentro do aparato urbano. Desse ponto de vista, coloca-se em xeque a noção de necessidade de tais aparatos e até mesmo a cristalização do contraste entre urbano-natureza, de modo a apenas vazar na pintura a calçada e a estrada. A segunda, Correntes, no mesmo estilo e propósito, mas diferente da primeira, está recortada da paisagem a composição maioritária de fios de energia, também concernente à intencional delimitação urbana e provocação visual supramencionadas.
Segurança da série Recortes tinta aquarela sobre papel Canson | 29.7 x 42 cm | 2019
Correntes da série Recortes tinta aquarela sobre papel Canson | 42 cm x 29.7 | 2019
Unidade de ensino: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH)
Curso: Geografia
Provocar, questionar, revelar, incomodar: para isso arte, ou, pelo menos, a minha arte, é feita, estando o objetivo de agradar quem quer que seja em segundo plano. Talvez o que agrade alguns, incomode outros tantos, e é isso que me agrada no mundo das artes.
Este trabalho aqui em questão traz à tona a violência institucional do Estado sobre os mais fracos, ou seja, a repressão contra pobres, trabalhadores e grupos de minorias que lutam por seus direitos e são sempre colocados à margem sendo considerados praticamente como inimigos dos detentores do poder. Sua criação derivou de uma dessas inúmeras cenas brutais onde a Polícia Militar invadiu e reprimiu violenta e sarcasticamente manifestações dentro da Universidade de São Paulo onde estudantes exigiam melhores condições dentro da instituição, principalmente para aqueles que são sempre excluídos pela própria universidade.
Limitar a arte apenas a padrões estéticos é como tentar cortar sua essência e, possivelmente, algo impossível de se concretizar. Sendo assim, faço questão de evidenciar em meus trabalhos tal essência por meio da representação de elementos que façam alusão direta a questões de cunho político, pois a política está na vida do ser humano mesmo que este ache estar ignorando-a ou não participando da mesma.
Repelente PPP tinta acrílica sobre madeira emoldurada | 41 x 31 cm | 2018