Mais uma vez o Nascente USP traz a público a qualidade e diversidade da produção musical na Universidade de São Paulo. Nesta edição do prêmio recebemos 32 inscrições na categoria de Música Popular, com trabalhos diversificados e, de modo geral, com níveis técnico e artístico bastante altos. Logo na primeira audição dos trabalhos recebidos, ficou claro para a comissão julgadora que o processo de avaliação não seria dos mais fáceis. Em primeiro lugar, pelo número de trabalhos bem realizados e que apontavam para a maturidade dos artistas envolvidos. A cada nova música escutada, vozes bem articuladas, instrumentistas habilidosos, e compositores e arranjadores criativos imprimiam suas marcas pessoais ao mesmo tempo que revelavam a proximidade com os gêneros e estilos que os influenciaram. Em segundo lugar, pela diversidade das propostas que trafegavam por gêneros distintos, ora se aproximando de práticas urbanas como o rap, ora revisitando formas regionais da música brasileira. Não ficaram de fora as inspirações de caráter mais global como o jazz e o rock, os elementos de improvisação, os ritmos que convidavam à dança e a fusão com as linguagens da música de concerto. Em razão dessa diversidade, a criação de parâmetros de comparação entre os trabalhos tornou-se um desafio para a comissão julgadora.
Além da qualidade artística dos trabalhos, chamou a atenção o refinamento das produções apresentadas. Se em edições passadas era comum recebermos gravações realizadas em condições bastante simples, agora a maior parte dos registros não apenas exibia uma ótima qualidade de gravação, como também indicavam um cuidado com edição e mixagem dos áudios, tornando as músicas ainda mais atraentes. Isso resulta da crescente acessibilidade a tecnologias mais baratas e portáteis, mas que oferecem um enorme potencial para produção em áudio, sem a necessidade de acesso a um estúdio profissional. De certa forma, isso modifica também o próprio métier dos jovens músicos que participaram do Nascente 2022, cujo trabalho não pode mais se limitar à criação e performance musical, mas precisa incorporar outras etapas de pré e pós-produção. É cada vez mais comum ver artistas no início de suas carreiras, cuidando também da divulgação e comercialização de seus trabalhos, tirando proveito das oportunidades abertas pelo uso de tecnologias digitais e dos recursos oferecidos pelas redes sociais. Vale também notar que, embora o formato ‘canção’ ainda domine as produções na categoria de Música Popular, recebemos neste ano trabalhos que apostaram em outras propostas, como a elaboração de arranjos, composição para formação coral ou criação de peças instrumentais, muitas delas apostando na experimentação e inovação.
Por todas essas características, a comissão julgadora teve que levar em conta diversos aspectos na seleção dos finalistas e, posteriormente, na atribuição dos prêmios. Em primeiro lugar, estivemos atentos à diversidade de propostas e buscamos dar espaço para as diferentes categorias dos trabalhos submetidos (composição, arranjo, interpretação vocal e instrumental). Em segundo lugar, num contexto em que o nível técnico esteve relativamente alto, procuramos privilegiar aspectos mais qualitativos dos trabalhos, enfatizando a originalidade e consistência das propostas. Isso ficou claro na excelente apresentação que tivemos dos 10 finalistas que concorreram na categoria de Música Popular, e também na força artística evidente dos trabalhos premiados.

Fernando Iazzetta, Mara Campos, Rogério Luiz Moraes Costa