Nesta edição de 2022 tivemos a participação de uma ouvinte nas reuniões de júri da categoria Texto. Confira o seu relato abaixo:
A minha participação como ouvinte no processo de julgamento da categoria Texto possibilitou não apenas um contato próximo (e até então inédito para mim) com a produção literária de colegas graduandos e pós-graduandos, como também me garantiu uma oportunidade de refletir sobre como a escrita acadêmica e a literária, se próximas em sua matéria, podem ser tão distintas no seu fazer.
Na escrita acadêmica, os objetivos são claros e o trajeto, muitas vezes, não permite vacilar. Ao final do processo, espera-se sempre um resultado, um retorno certo, uma vez que os trabalhos serão invariavelmente lidos e avaliados pelos professores. Na escrita literária, em especial para os escritores iniciantes, o norte parece estar para todos os lados. Caminhamos quase sempre sozinhos, sem uma ideia clara de estarmos seguindo a melhor direção, os passos ecoando muitas vezes sem encontrar resposta para perguntas até simples diante da complexidade da tarefa: está bom? será que escrevo bem?
Os vencedores deste concurso (incluindo aqui as menções honrosas) podem ter a certeza de estar no caminho certo. Passaram pela apreciação detida de uma banca que, ao mesmo tempo que se mostrava criteriosa, não perdia em momento algum o foco do projeto em que se inseria, sempre reconhecendo as qualidades de textos que, ainda que em processo de maturação, são prova do potencial criativo da comunidade de estudantes da Universidade de São Paulo. Que o Nascente USP seja para esses autores um incentivo na consolidação de suas vozes literárias.
Camila Silvestre
Doutoranda em Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e escritora.
A mulher invertida
É a narrativa de uma mulher que nasceu ao avesso, de forma que seus órgãos vitais – cérebro, coração, pulmões etc. – estão voltados para fora, e seus órgãos do sentido – olhos, ouvidos, pele etc. –, para dentro. Sua boca é o único canal de contato entre os mundos interior e exterior. Devido à extrema fragilidade de seu corpo, vive isolada em seu pequeno apartamento. Apaixonada pela vizinha do apartamento em frente, a quem espia através do olho mágico, a mulher invertida oscila entre o temor e o desejo de aproximar-se dela. Esse desejo leva a mulher invertida a meter-se em situações cada vez mais insólitas, arriscando seu modo de vida e talvez, no processo, transformando-se para sempre.
Violeta
Violeta é um conto.
Bomba relógio, um coração; Menina Terra; Os frutos mais baratos, mais baratos
O conjunto de poemas “Consubstanciais” foi escrito a partir de reflexões referentes a classe, gênero e raça durante o processo de minha pesquisa de Doutorado. A vida urbana e a relação com a terra, as desigualdades e a luta, a (im)potência da palavra e um chamado à resistência.
Enciclopédia de História Natural
Contos escritos em 2022, sobre os quais paira uma atmosfera comum. O título da compilação (‘Enciclopédia de História Natural’) procurou indicar essa atmosfera, sem, contudo, determinar uma linha temática precisa. Essa determinação fica a cargo do leitor.
O segredo de Moxu
Com um linguagem e estrutura narrativa que remetem à tradição do conto, com neologismos e valorização do cultura popular brasileira, “O segredo de Moxu” conta a história de uma menina que brinca de submergir em um tanque d’água enquanto sua mãe lava roupas. Um texto sobre como os afetos e as memórias expressam-se no cotidiano infantil.
Conto de ficção especulativa sobre as implicações da realização do transumanismo.
Porção
Trecho de um livro de poemas que carregam marca da experiência de vida em são paulo, em busca do toque em outras pessoas de quando o ônibus freia brusco.
A incrível quest de Pedro Prado para traduzir a epopéia Aqui se faz, aqui se paga, de uma ex-namorada
Conta a história de Pedro Padro traduzindo um manuscrito de sua ex e entrando em impasse com uma oração indecente, impossível de traduzir.
A Luz da Aurora
O conto traz a história de Luz, uma mulher migrante no Brasil que sofre de violência doméstica e que encontra em outras mulheres a acolhida e o apoio para sair dessa situação.
Dicotomia Urbana
Reflexão sobre uma o viver urbano, tendo como fundo uma cena ambientada em um vagão do metrô.
Favor, não alimentar os tigres
É um conjunto de poemas espremidos das experiências amorosas (frutos secos) de uma menina-mulher que dorme com tigres. O início de sua escrita data de algum momento pandêmico do ano de 2021 e estende-se até agora. Metáfora condutora da sequência de 14 poemas, os tigres ora são citados, ora são sugeridos, ora apenas ecoam pelos versos.
Laranjas-bahia
A crônica busca por meio de uma atividade doméstica cotidiana, a ida a feira, a subjetividade da solidão de uma estudante universitária que não consegue carregar suas compras sozinha. O papel do gênero feminino é também explorado pela alegoria das frutas carregadas.
O sertão, a menina e a mulher àrvore
O texto é uma crônica que narra a história da vida cotidiana, dos conflitos, dos projetos e dos anseios de moradores do sertão do Ceará a partir da perspectiva de uma menina de nove anos de idade. Com base na sua percepção infantil relata as dificuldades e agruras dos moradores da localidade de Bom Jardim de uma forma leve e descontraída. Uma narrativa clara e solar que utiliza uma linguagem simples e permite conhecer o pensamento, os costumes e os discursos da época presentes nas palavras e expressões próprias da forma de se comunicar no local.
Lusco-Fusco
Lusco-fusco é um poema dedicado à Adélia Prado.