A edição de música erudita do Nascente 2023 contou, como sempre, com candidatos excelentes. Entre os finalistas selecionados houve 3 pianistas, uma cantora lírica, um violonista, um trio de sopros e uma composição: é extremamente difícil comparar grandezas e formas tão diversas. Todos os concorrentes seriam merecedores do prêmio e teriam sido agraciados, se não fosse a necessidade de escolher apenas no máximo 2 vencedores. Foram, assim, contempladas as performances de Victor Pompermayer (piano) e Lucas Vieira (violão): uma peça pianística brilhante e de grande efeito, que se opõe à delicadeza intimista da obra para violão. Entre os demais premiados, parabenizamos a excelente composição de Kino Lopes e a bela interpretação das Bachianas 4, tocada pela pianista Jennifer Alexandra. Não seria possível finalizar este texto sem lembrar da delicadeza da performance da soprano Anastássia Liantziris (acompanhada por Isabella de Carvalho), assim como a ótima integração dos músicos Kaique Iritsu de Araújo (clarinete), Mateus Colares de Souza (oboé) e Samyr Imad Costa (fagote) no trio de Jacques ibert. A banca parabeniza a todos estes excelentes músicos que proporcionaram uma noite memorável de música erudita na edição de 2023 do Concurso Nascente.
Un sueño en la floresta
“Un Sueño en la Floresta” é uma peça composta pelo violonista paraguaio Agustín Barrios Mangoré. A obra leva o ouvinte a uma viagem musical por paisagens sonoras evocativas. Com sua melodia sinuosa, harmonias sofisticadas e técnicas intrincadas de dedilhado, a peça mostra o virtuosismo de Mangoré e sua capacidade de despertar emoções através do violão. “Un Sueño en la Floresta” é uma prova do estilo único do compositor, misturando elementos da música tradicional paraguaia com técnicas clássicas de violão.
Toccatina, Ponteio e Final – Marlos Nobre
Toccatina, Ponteio e Final” é uma peça para piano solo de Marlos Nobre. Combinando virtuosismo, lirismo e energia, a obra apresenta uma mistura única de influências tradicionais e contemporâneas. O compositor utiliza arpejos, escalas rápidas e passagens emotivas, criando uma experiência desafiadora e envolvente. Essa peça demonstra a habilidade de Nobre em criar composições que cativam o público com sua abordagem musical original e expressiva.
Animitas
O espírito de Animitas, obra para viola solo, é explorar o gesto da colagem: conexão entre tradição e exploração, unindo repertórios, afetos e memórias. A dialética musical talvez se baseie justamente na fomentação de conexões através de materiais, ideias, tempos e espaços, e conectar, segundo Benjamin, implica saturar o presente com elementos aparentemente incompatíveis. O desafio está em conectar estes mundos: o “common-practice” e o des-tonal. A exploração da extensão da viola e do arco nas cordas, revelando instabilidades e transiências, caminha entre o concerto de Telemann e a sexta Sequenza de Berio, explorando diferentes partes do instrumento e as gestualidades que moldam cada repertório e suas sensações. O tremolo será a técnica que permitirá o itinerário entre a composição do século XVIII e do século XX, percorrendo diferentes regiões da viola, diferentes memórias da escuta.
Bachianas Brasileiras n.4, I. Preludio (Introdução) IV. Dansa (Miudinho) – H. Villa-Lobos
A Bachianas Brasileiras n. 4 foi composta para piano a partir de 1930, mas estreada somente em 1939. Recebeu novo arranjo para orquestra em 1941, estreando em meados do ano seguinte. Villa-Lobos fundiu material folclórico brasileiro às formas pré-clássicas no estilo de Bach.
Esta obra contém quatro movimentos e será executado dois deles:
– Preludio (Introdução)
– Dansa ( Miudinho)
Allegro de Concierto Op. 46
Obra de compositor espanhol que explora virtuosismo, lirismo e estrutura; criando brilho, leveza que contrasta frequentemente com melancolia e intensidade afetiva.
Cinq Pièces en Trio – Jacques Ibert
Cinq Pièces en Trio de Jacques Ibert, é um trio composto para Oboé, Clarinete e Fagote. São cinco peças curtas, que demonstram uma escrita e uma sonoridade bastante idiomática para esses instrumentos, com nuances e texturas que são bastante características de instrumentos de palheta. Cada movimento apresenta uma textura diferente, cores, contrastes. A obra tem uma sonoridade e escrita modal, apresenta cânones, e nos trás lembranças de danças barrocas.
Dentro da Noite, de Lorenzo Fernández
Oscar Lorenzo Fernández, um dos maiores compositores do século 20 e natural do Rio de Janeiro, compôs a canção “Dentro da Noite” em 1946, no terceiro grande período de sua vida, no qual escreveu muitas obras vocais. Tais obras predominantemente tinham a forma clássica “A-B-A”, além de boa parte delas serem baseadas na cultura da Modinha e Música dos Seresteiros. Além do mais, suas canções eram intrinsicamente ligadas a metrificação poética de forma a respeitar a estrutura das palavras.