Em sua trigésima edição, o Programa Nascente ofereceu desafios ainda maiores na categoria texto. Afora a maior diversidade de gêneros discursivos a que os trabalhos estavam afiliados, havia temas sensíveis relacionados à vida nas cidades, tais como: a (des)ordem dos afetos; os sintomas da angústia; a resistência aos gestos totalitários; as variadas formas de traduzir os modos de representatividade etc.
Nesse cruzamento entre o fator individual e o dado coletivo, destacaram-se obras gráficas, ensaios e outras produções em verso e prosa que fundiam as esferas pública e privada, que sugeriam múltiplas formas de intervenção.
Jean Pierre Chauvin, Leonardo Gandolfi e Maria Clara Paixão
pequenas brutalidades
Coletânea de poesias que conjuga em sua poética o impasse do eu lírico diante das pequenas brutalidades da cidade e da rotina dilacerante, mas também as do desejo e da criação.
Inferno
Em homenagem aos 700 da morte de Dante Alighieri, o roteirista imagina o que Dante veria se retornasse ao Inferno no século XXI e constatasse a criatividade da maldade humana. Do negacionismo da pandemia até o ódio propagado por redes sociais, Dante terá muitas novidades a relatar.
Olho roxo; A gigantrificação
“Olho roxo” trata simplesmente de um casal que, numa tarde, preparou uma buchada de boi que não saiu como esperado; “A gigantrificação” ambiciona narrar a vez em que gigantes começaram a andar pela Zona Leste de São Paulo e o militante Paulo, o pequeno burguês, decidiu descobrir a origem do fenômeno e se arrependeu.
Fragmentos
Gilda de Mello e Souza em “O vertiginoso relance”: a necessidade de historicizar o olhar feminino míope. Baseia-se na desconfiança de que a realidade feminina só pode ser versada pelo canto dos olhos e traduzida pelo fragmento.
Ponto Meia
Um conto de terror e fantasia sobre uma relação problemática de patroa e empregada.
Relatos desconexos sobre alguém
Relatos de objetos diversos, como por exemplo, um dicionário de francês, sobre alguém. Falando um pouco da trajetória entre esse objeto e o personagem.
No silêncio, há chaves; ansiedade; poemário; poesia uterina; o segredo das semeadoras; fruto; Amiri, Ashanti, Safiya, Rakim; corpo-fluido; frestas; espreita
Um conto de tamanho médio que nos apresenta Amira, moça que não tem a personalidade que os pais esperavam; e nove poemas de variados tamanhos, em sua maioria sobre maternidade simbólica e metapoesia.
Piada
A narrativa expõe um mundo em que sapatos são contratados por humanos para que eles os calcem. No conto de humor ácido, uma sapatilha de tamanho infantil enfrenta dilemas em razão de seu tamanho e sexualidade.
Encontros
Conjunto de sete contos que discutem amor e ausência na pós-modernidade, permeando gênero, idade e sexualidade.
Glória e os Dias
“Glória e os Dias” é uma narrativa em 7 capítulos que traz intercalados flashes da rotina de Glória, uma mulher que vive sozinha (é divorciada e seus 4 filhos são casados e já saíram da casa materna), com textos escritos por uma de suas filhas alguns anos depois da morte de Glória. Nos flashes de Glória podemos ver que ela convive com a solidão, com as dificuldades de ser mulher em um mundo machista e com uma Doença (não nomeada) que traz muita dor e sofrimento. Nos textos escritos pela filha, podemos ver aproximações e distanciamentos com relação ao que a mãe viveu, em meio a reflexões sobre vida, morte, solidão e maternidade. Em uma escrita não linear, em “Glória e os Dias”, está estabelecido um jogo entre essas duas mulheres e suas respectivas realidades.
Janelas que falam são mais felizes?
A crônica aborda a virtualização das relações em um contexto de ensino, observando como as pessoas se transformam em janelas durante encontros síncronos. Enquanto algumas se abrem, outras preferem se manter fechadas. A análise do comportamento das janelas ocorre em meio a uma aula de metodologia científica.
Viagem à ilha
Conjunto de cinco poemas que se concentra sobre as tensões entre tempo e espaço, história e geografia.
História de Vó
A narradora reconta uma história de sua infância, um causo de lobisomem contado por sua avó apenas uma vez. A história de sua avó e sua própria narrativa se entrelaçam a partir disso.
Via láctea no telescópio sertanejo
Há quase dois anos não via minha mãe, desde a morte de meu pai. Meus familiares, tios, avós, há mais tempo ainda. Cresci a barba e eles perceberam bem. Cheguei para passar exatamente uma semana. Vim fazer poesia, acima de tudo. Mas descobri que não z nada, somente anotei o que ouvi, vi e percebi. E a poesia se fez, me olhou fundo nos olhos, bem quando numa noite sem nuvens, quente com brisa fresca, a Via Láctea me apareceu limpa e aberta e me pôs no meu lugar. Vi o tamanho do céu e que tudo está escrito.
In memorian — Gazula e Fusquinha, falecidos em 2022.
Iod, mem, schin — Eloim
Areia; Farofa
Ambas as obras se enquadram como textos em prosa; contos ficcionais nos quais a narrativa se alterna entre primeira e terceira pessoa. Em ‘Areia’, as trocas são mais constantes, entre um narrador personagem, que apenas relata seus pensamentos sobre a vida, noutro tempo-espaço, e um narrador observador, que descreve o andamento da história principal, que se passa entre dois irmãos, Henrique e Alexandre. Já em ‘Farofa’, as alternâncias são apenas no começo da história, com ela logo desembocando no fio principal, onde um narrador observador descreve a trajetória de Fernando em uma favela no Rio de Janeiro para comprar farofa em seu morro.
117 versos para aplacar minha solidão
Do atrito entre solidão e desejo abrem-se em mim fissuras das quais tento desfiar fantasias em forma de poema. Assim, em 117 versos para aplacar minha solidão, apresento 7 poemas nos quais tento desenredar um segmento desse fio (que não tem começo, nem fim definidos). Quando eu era criança, escrevia um sem fim de poemetos açucarados para as meninas que eu gostava. Agora, depois de muitos anos sem escrever nada do tipo, quero dar corpo (de poesia) ao meu desejo por outros homens.
Querido diário de aleatoriedades nada profundas
Um compilado de sentimentos e acontecimentos cotidianos que perpassam pensamentos muito mais do que apenas banais. Feito de maneira quase que vomitada sobre o papel, o que traz o caráter de diário, e com pretensão de derramar angústias e prazeres que acontecem sem pedir licença, todo dia.
Fios
História em quadrinhos digital, de página única, sobre memória e afetividade negra.
Marias Antonias
Crônica pessoal, e de muitas vidas, envolvidas na trajetória de uma das mais icônicas ruas da cidade de São Paulo.