Interpretado por Gal Martins e Rosângela Alves, o espetáculo propõe uma reflexão sobre corpos gordos em confinamento.
Algo nos perturba, nossos corpos de certa forma são confinados e destinados ao estereótipo de corpo doente, corpo sem tônus, sem pulso.
A exposição do medo que maltrata o outro e ridiculariza as proporções obesas de um corpo potente só tem aumentado durante a quarentena devido à pandemia do Covid 19. Um nó vem se formando, o corpo sente o desconforto e precisa falar, dançar, se movimentar.
Gorda lembrança de um corpo tomado pela infância, onde as lembranças da terra nos levam a plantar no sagrado um couro negro, gordura nossa de cada dia, a flacidez do meu encantar de dedos, e assim vemos na terra o desejo do nós e a verdade do vento.
Cuidar desses corpos se faz necessário, escutar esses corpos é urgente.
Nós, mulheres pretas e gordas, não aceitamos mais engolir esse mundo indigesto, é preciso soltar esse amargo. O ENGASGO é inevitável e a partir daí REGURGITAR para sobreviver e fazer pulsar essa potência para o mundo.
Então convocamos nossa ancestralidade…pelas espadas de Ogum que me cortam eu me fortaleço em meio a divisão de saberes eu me ergo perante a vontade vulgar de permanecer quieta e só. Lentamente eu transito entre um ladrilho, quase quebrado de emoções só minhas, me refaço.
Ficha técnica: Concepção: Gal Martins e Dina Maia / Direção Coreográfica e Intérpretes Criadoras: Rosângela Alves e Gal Martins / Trilha Sonora: Dani Lova / Texto e Adereços: Dina Maia / Fotografia e Operação de Câmera: Lua Santana
Gal Martins (artista e pensadora em dança, gestora cultural e cientista social, fundadora da Cia Sansacroma e do coletivo Zona AGBARA)