Utilizando como referência o conceito de Leveza de Ítalo Calvino, Parto Pavilhão mergulha na perspectiva feminina entre a realidade e o realismo fantástico
Foto: Edu Luz
O Teatro da USP apresenta, a partir de 22 de fevereiro, o espetáculo solo Parto Pavilhão, com atuação de Aysha Nascimento, direção de Naruna Costa e texto de Jhonny Salaberg.. Com entrada gratuita, a peça fica em cartaz até 17 de março, de quinta a sábado, às 21 horas, e domingos às 20 horas.
Parto Pavilhão reconta a fuga de nove detentas com bebês de colo do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) Feminino do Butantã, ocorrida em 2009. A montagem encerra a Trilogia da Fuga, que tem ainda Buraquinhos ou O vento é inimigo do picumã (2018) – indicado à categoria melhor dramaturgia e premiado à categoria melhor direção no Prêmio APCA – e Mato Cheio (2019).
Nesta peça, Salaberg transforma mais um fato da realidade carcerária do país na dramaturgia onde o foco narrativo é a história da Rose, uma das detentas. Segundo o autor, “é um espetáculo que mergulha na perspectiva feminina através de um recorte que brinca com o documento e o realismo fantástico”.
Para construir a história do espetáculo, o autor afirma ter utilizado como referência o conceito de Leveza, do romancista Ítalo Calvino. Para Salaberg, o conceito funciona como uma ferramenta criativa. A Leveza do autor italiano cumpre a função de ressignificar temáticas e notícias densas em narrativas leves.
Interpretada por Aysha Nascimento, Rose é a ex-técnica de enfermagem que se vale da dissimulação com os agentes penitenciários para garantir acesso nos interiores da prisão e arquitetar a fuga. Para a diretora, Parto Pavilhão “é um convite à questão do encarceramento das mães. É sim um retrato da realidade, mas não se trata de uma foto panorâmica. É close-up. Um convite a chegar perto da identidade de uma mulher que, ainda que seja um número para o sistema, é uma”.
O que é a Trilogia da Fuga
Parto Pavilhão integra a terceira e última etapa de uma pesquisa sobre o genocídio do corpo negro e a fuga pela sobrevivência, tendo como disparadores anteriores os espetáculos Mato Cheio e Buraquinhos ou O vento é inimigo do picumã. As peças deram título a livros homônimos publicados na Coleção Dramaturgia pela Editora Cobogó, selo que também publica Parto Pavilhão em 2021. A pesquisa das três obras que compõem a Trilogia da Fuga é ancorada na noção de Leveza proposta pelo escritor italiano Ítalo Calvino no livro Seis propostas para o próximo milênio. Nessa perspectiva, busca-se uma abordagem cujo modelo narrativo encontra espaço para ressignificar temáticas densas, como uma ferramenta de resistência e reação ao peso do viver. Assim, no caso de Parto Pavilhão, a Leveza busca responder a seguinte questão: de que modo é possível falar de mulheres negras e mães no sistema carcerário feminino de uma forma acolhedora?
Sinopse
Rose, detenta de uma penitenciária feminina para mães e ex-técnica de enfermagem, ajuda as mulheres nos partos, nos cuidados com os filhos e a suportar o peso dos dias dentro das celas. Foi mãe dentro da penitenciária e conhece o cotidiano e os segredos desse labirinto. Aos poucos ganha a confiança de todo o pavilhão e da diretora do presídio, com quem tricota roupinhas de lã para os bebês quase todas as tardes. Tudo muda quando, durante um jogo da seleção brasileira, ela pega um molho de chaves em uma gaveta aberta.
Ficha técnica
Idealização e Dramaturgia: Jhonny Salaberg / Direção: Naruna Costa / Atuação: Aysha Nascimento / Musicista em cena: Reblack / Direção musical e Composições: Giovani Di Ganzá / Preparação corporal: Malu Avelar / Cenografia e Figurino: Ouroboros Produções Artísticas – Carol Gracindo, Thais Dias e Io Costa / Desenho de luz: Gabriele Souza / Operação de luz: Beatriz Nauali / Sonoplastia e operação de som: Tomé de Souza / Identidade visual: Sato do Brasil / Fotos: Edu Luz / Assessoria de Imprensa: Rafael Ferro e Pedro Madeira / Produção executiva: Washington Gabriel / Produção jurídica: Corpo Rastreado
Serviço
Parto Pavilhão
Onde Teatro da USP
Rua Maria Antônia, 294 – Vila Buarque – São Paulo, SP (próximo às estações Higienópolis e Santa Cecília do metrô)
Quando | De 22 de fevereiro a 17 de março, de quinta a sábado às 21 horas, e domingo às 20 horas / Sessões extras aos sábados: 2, 9 e 16 de março às 18 horas
Classificação | 14 anos
Quanto | Gratuito. Ingressos na bilheteria 1h antes de cada sessão.
Capacidade | 50 lugares
Duração | 60 minutos
Informações | (11) 3123-5222