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Invisibilidade e crítica social são temas de exposições gratuitas da USP

Invisibilidade e crítica social são temas de exposições gratuitas da USP

Centro Universitário Maria Antonia - 04/10/2022

Exposições no Centro MariAntonia da USP utilizam recursos audiovisuais, esculturas, e objetos para trabalhar temas relacionados a problemas contemporâneos da sociedade

Por Sandra Lima

O Centro MariAntonia da USP inaugura, no dia 20 de outubro, às 18 horas, duas exposições com entrada gratuita. Silêncio, de Sonia Guggisberg, evidencia a invisibilidade das pessoas em trânsito, e Cadeau, de Alexandre Murucci, move-se entre o referencial surrealista e o refinamento crítico que atravessa o conjunto das obras. A visitação é de terça a domingo, e feriados, das 10 às 18 horas.

Silêncio, de Sonia Guggisberg, apresenta produção artística documental e busca linguagens que possam traduzir o silêncio institucional, governamental e intelectual da sociedade a respeito do deslocamento humano, experienciados pela artista em territórios como a Grécia e a Ilha de Lampedusa, na Itália.

A mostra propõe uma análise sobre as singularidades que são obrigadas a se redesenhar a partir da mudança forçada de seus países e joga luz na invisibilidade de milhões de pessoas, que deixam seu lar, em busca de um lugar. A artista utiliza recursos audiovisuais para mostrar o redesenho das identidades de diferentes origens e suas consequências ainda sem solução.

Ana Avelar, curadora da exposição, explica que “seu trabalho, multimídia e imersivo, provoca-nos pelos sentidos, fazendo com que fiquemos atônitas diante das realidades com as quais nos envolve”. Para ela, experimentar essas obras nos deixa reflexivos, porém mobilizados perante as imagens. “Nesta exposição paramos diante dos vestígios de migrações contemporâneas, estas características de um momento de insegurança e violência sociais globais”, explica.

Composta por esculturas, objetos, fotografias e vídeo-instalação, Cadeau, de Alexandre Murucci, traça um percurso analítico-crítico do momento político atual, visto por um arco histórico das mazelas atávicas do país.

O artista toma emprestado o nome Cadeau de uma obra seminal do movimento surrealista – um ferro de passar roupas com pregos, criada em 1921 por Man Ray, um ícone do movimento dadaísta e surrealista, e a síntese do conceito de ready-made, que subverte a regra da lógica e da identificação convencional dos objetos ao transformar um item da vida doméstica comum em um objeto estranho.

Além da exposição, Murucci nomeia uma de suas obras como Cadeau, que também é um ferro de passar, e exibe a agressão que o homem impinge à natureza. Outra conexão apontada pelo artista entre as duas obras está na tradução de cadeau para o português, que é “presente”, o ato de se estar fisicamente em um lugar além de dar a uma pessoa uma lembrança num momento especial. Segundo Murucci este termo tem sido usado como palavra de ordem em atos de protestos e luta por direitos na sociedade brasileira.

O curador Shannon Botelho explica que a mostra propõe uma reflexão multifocal, que parte de cada um dos trabalhos e abraça a vida no Brasil contemporâneo. “Em tempos novamente cercados por ondas obscurantistas, com as quais foram instituídas e executadas violências simbólicas contra nosso processo civilizatório, a exposição parte de um arco histórico, fazendo frente aos avanços dos projetos de destruição e de incremento de perversidades nas práticas políticas e sociais, naturalizadas pelo perfil conservador profundo que emerge atávico”, define.

 

Quem são os curadores

Ana Avelar

Professora adjunta do departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília (UnB), com mestrado em Literatura Brasileira e doutorado em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo (USP). Foi curadora da Casa Niemeyer, UnB, entre 2017 e 2021. Desenvolveu estágio doutoral na School of Fine Arts, da New York University (NYU) em 2011. Como curadora, realizou mostras em diversos espaços — Casa da Cultura da América Latina (CAL/UnB), Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte (CCBB/BH), Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, entre outros. Participa de júris e comissões na área, como Prêmio Pipa (como conselheira) e Marcantonio Vilaça, do qual foi finalista na categoria curadoria em 2017. Foi jurada da 61º edição do Prêmio Jabuti de 2019. No mesmo ano, foi selecionada pelo edital Intercâmbio de Curadores, promovido pelo projeto Latitude, da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) em parceria com o Getty Research Institute, e pela chamada de artigos do Instituto Casa Roberto Marinho. Sua exposição Triangular: arte deste século, realizada na Casa Niemeyer em 2019, foi eleita melhor coletiva do ano e melhor projeto adaptado ao digital pela enquete pública promovida pela Revista Select.

 

Shannon Botelho

Doutor e mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com período sanduíche na École des hautes Études en Sciences Sociales (EHESS – Paris). Possui bacharelado em História da Arte pela UFRJ e licenciatura plena em Artes Visuais pelo Centro Universitário Metodista Bennett. Pesquisa a arte brasileira e suas instituições no século XX, com ênfase na década de 1950. Atua como pesquisador e crítico de arte, e é professor do departamento de Artes Visuais do Colégio Pedro II e curador convidado no Memorial Municipal Getúlio Vargas (RJ).

Imagem capa: Vista para o mar, 2019. Instalação fotográfica, de Sonia Guggisberg / Cadeau, de Alexandre Murucci

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