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O prazer pelo prazer é tema da nova mostra do CINUSP

O prazer pelo prazer é tema da nova mostra do CINUSP

CINUSP Paulo Emílio - 22/11/2019

O prazer pelo prazer é o tema de PRAZERES INCONTIDOS, em cartaz de 25 de novembro a 08 de dezembro no CINUSP. A mostra reúne filmes que retratam a busca de prazer a qualquer custo e inclui diferentes manifestações desse comportamento popularmente conhecido como “hedonismo”, termo próprio da Filosofia que originou diversas correntes de pensamento desde a Antiguidade com Epicuro até a Idade Moderna com Henry Sidgwick.

No universo dos prazeres, não há regras gerais: podem surgir do sexo, da comida, da preguiça, das drogas e até mesmo da dor ― sozinho ou em grupo, vale tudo em nome de qualquer prazer. E os motivos que levam o ser humano a recorrer à procura ininterrupta desses prazeres são tão múltiplos quanto as consequências que ela pode causar. Para alguns, é só uma forma de escape da realidade. Para outros, é a concretização de um desejo pulsante que pode resultar em satisfação ora sim, ora não. Essa dubiedade tem origem na dificuldade de se definir com precisão o que de fato é o prazer e de entender como ele se dá na variedade de contextos em que se manifesta.

Em A comilança, por exemplo, é a comida em porções homéricas que promove o gozo das personagens apresentadas pelo diretor italiano Marco Ferreri, reunidas em uma mansão para um banquete cuja única regra é comer sem parar. Já em O império dos sentidos, do consagrado cineasta japonês Nagisa Ôshima, é o sexo que representa a busca incansável de um casal pelo prazer extremo.

Essa procura pode adquirir traços de violência e se tornar uma ameaça ao indivíduo e a quem o cerca ― o deslumbre com o mundo da fama envolve até mesmo a polícia em The bling ring e o ego potencializado pelas drogas leva a um assassinato em Party monster, ambos baseados em histórias reais. Em outros casos, o prazer absoluto é visto quase como um direito a ser reivindicado ― em Alexandre, o felizardo, o diretor francês Yves Robert evoca o manifesto “O direito à preguiça” de Paul Lafargue na persona de um fazendeiro de meia idade. Em Curtindo a vida adoidado, um adolescente chamado Ferris Bueller percebe que sua vida é curta demais para não se dar o direito de matar aula com seus amigos.

Há também espaço para o “prazer pelo prazer” na produção cinematográfica de períodos históricos conturbados, de certa forma refletindo o contexto político e a época dos países em que foi concebida. Táxi para o banheiro, por exemplo, apresenta os excessos do submundo do sexo de uma Alemanha dividida pelo muro de Berlim, enquanto que As pequenas margaridas acompanha as travessuras e os deleites de duas garotas em uma Tchecoslováquia sob regime/ocupação socialista.

Quanto ao cinema brasileiro, Domingos de Oliveira mostra a despreocupação com as convenções amorosas e os prazeres das praias e boates do Rio de Janeiro da década de 60 em Todas as mulheres do mundo. Um Rio de Janeiro diferente daquele visto em A frente fria que a chuva traz, de 2015, que serve de cenário para os delírios dos adolescentes ricos e suas festas na laje de uma favela do Vidigal. Ambas as imagens, porém, contrastam com a São Paulo tomada pela violência quase punitiva que dizima os frequentadores da noite paulistana dos anos 90 no curta Serial clubber killer.

Todos esses filmes destacam uma condição na existência humana que se manifesta desde gestos rotineiros até atitudes que beiram o extremo, o que traduz as contradições que a cercam. Esse momento em que o ser humano assume uma caça aos prazeres mundanos ― em uma dinâmica em que, às vezes, a presa é o próprio caçador ― pode causar reações diversas ao espectador. Alguns podem se espantar, outros se envergonhar, ou mesmo se identificar; afinal, por mais incomum que possa ser, o prazer não deixa de ser humano.

O CINUSP convida todo o público a conhecer as obras que fazem parte da curadoria, sentindo de fato prazer com algumas delas ― e com outras, nem tanto.

O prazer pelo prazer é tema da nova mostra do CINUSP
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