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Elaboração de proposta para salvaguarda do teatro de grupo de São Paulo

Elaboração de proposta para salvaguarda do teatro de grupo de São Paulo

Centro de Preservação Cultural - 30/11/2022

Pesquisadores, representantes da classe teatral, coletivos e profissionais se reúnem de 30 de novembro a 2 de dezembro para elaborar um documento que aponte medidas concretas de proteção ao Teatro de Grupo como patrimônio imaterial da cidade de São Paulo.

Levantamento realizado pelo projeto “A salvaguarda do patrimônio imaterial paulistano na extensão, ensino e pesquisa da USP”, coordenado por Simone Scifoni, vice-diretora do Centro de Preservação Cultural da USP e docente do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), identificou mais de 270 grupos de teatro atuantes, o que faz da cidade o epicentro desse tipo de expressão teatral no Brasil e polo de pesquisa em linguagens teatrais. São companhias que se destacam pela busca de novos caminhos estéticos e formas de intervir na realidade dos diferentes lugares, como é o caso do teatro de janela, do teatro de rua e de espetáculos encenados em patrimônios tombados abandonados.

Muitos deles concentram-se na região central da cidade, principalmente no Bixiga, onde funciona a sede do CPC-USP. Entretanto, esses grupos enfrentam inúmeros desafios para sua sobrevivência, sob constante risco de enfraquecimento e de desaparecimento, principalmente com a ameaça a seus espaços físicos pelos interesses do mercado imobiliário.

Desde maio de 2021 o projeto vem realizando pesquisas, mapeamentos e inventários para propor medidas que garantam a continuidade da atuação do teatro de grupo. Esse trabalho visa a complementar a decisão do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico Cultural e Ambiental do Município de São Paulo (Conpresp), que em 2014 reconheceu como patrimônio imaterial da cidade 22 grupos de teatro por meio da Resolução 23/2014.

Segundo Simone Scifoni, apesar do importante reconhecimento dessa prática cultural, o processo de patrimonialização foi omisso no que diz respeito à previsão de ações necessárias para garantir a continuidade e a reprodução desse bem cultural no tempo, como estabelece o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), criado pelo Decreto Federal 3.551/2000. A professora afirma que “quase dez anos depois do primeiro Registro do Patrimônio Imaterial na cidade de São Paulo, a proteção desses bens ainda não se completou na medida em que estão ausentes as medidas e ações capazes de garantir sua permanência no tempo. A elaboração dos planos de salvaguarda desses bens se faz urgente e um primeiro passo foi dado com a experiência dos Teatros de Grupo em parceria com o CPC-USP”. Ela cita como exemplo o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, um dos grupos de teatro listados no tombamento de 2014 que perdeu seu espaço de atuação por conta da demolição do imóvel que ocupava como sede, sem que o atual instrumento de preservação pudesse garantir a proteção do lugar. O grupo, famoso pelo estudo da fusão entre as linguagens do hip hop, do teatro épico e da autorrepresentação, tem mais de 20 anos de existência.

 

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Cláudia Schapira em “Bartolomeu, Que Será que Nele Deu?” (Foto: Divulgação)

Proposta de salvaguarda

O grupo paulistano em atuação mais antigo é a Companhia Teatro Oficina, que nasce em 1958 no Centro Acadêmico 11 de Agosto da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, com José Celso Martinez Corrêa, Renato Borghi, Etty Fraser, Fauzi Arap, Ronaldo Daniel e Amir Haddad. Mas o surgimento dos grupos de teatro paulistanos se deu principalmente nos anos 1970 e 1980, quando a particpação do teatro no movimento de resistência à ditadura tencionou e subverteu os espaços e padrões instituídos.

Mais tarde, em 2002, a implementação do Programa de Fomento ao Teatro de Grupo foi um importante fator para a expansão numérica dos grupos.  No entanto, nenhuma política pública pode, até hoje, garantir uma das principais condições para a realização das práticas culturais: o espaço físico. O processo de criação e preparação dos espetáculos demandam presença em um lugar e, portanto, situação de segurança jurídica para a sua permanência, o que também não se encontra garantido por meio do Registro como patrimônio imaterial.

Uma das direções do plano de salvaguarda é mostrar a importância do espaço físico na realização das práticas imateriais, sugerindo a necessidade de estabelecimento de ações complementares como a criação das Zonas de Especial Interesse Cultural – Áreas de Proteção Cultural (ZEPEC-APC), instrumento do Plano Diretor Estratégico de 2014, visando garantir a permanência e, portanto, de continuidade do bem cultural. Além disso, o plano de salvaguarda caminha, também, para a montagem de um banco de dados digital, de forma a contribuir para a valorização da memória do teatro de grupo, bem como possibilitar o avanço das pesquisas, além de fomentar a difusão e ações educativas.

A elaboração do Plano de Salvaguarda do Teatro de Grupo ainda se mostra pioneira na cidade de São Paulo ao promover a construção coletiva desse importante instrumento de proteção do patrimônio imaterial, realizada em conjunto com aqueles que são seus detentores.

A inciativa do CPC, órgão de cultura e extensão universitária que tem entre seus objetivos a promoção de ações de pesquisa, extroversão, educação, comunicação e interpretação do patrimônio cultural da USP e da pauta patrimonial, insere-se no contexto da união entre ensino-pesquisa-extensão, buscando contribuir para fortalecer a política pública e a gestão do patrimônio cultural.

Seguindo as orientações previstas no Termo de Referência do Iphan para elaboração dos Planos de Salvaguarda de Bens Registrados, o trabalho do grupo compreendeu, até aqui, quatro eixos: mobilização e alcance da política; articulação institucional e política integrada; pesquisas, mapeamentos e inventários; produção e reprodução cultural. Dentre as atividades realizadas até o momento destacam-se o mapeamento e o inventário das práticas dos grupos e o envolvimento de profissionais do Departamento de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal da Cultura, a articulação com coletivos, como o Genogram (coletivo de pesquisa e experimentação em cenografia e arte) e o Escritório Modelo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie (Mosaico), por meio do grupo de trabalho denominado GT Motim e, finalmente, a articulação com pesquisadores da área como pós-graduandos e professores do Instituto de Artes da Unesp.

 

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Abertura do Encontro de Trabalho: Plano de Salvaguarda do Teatro de Grupo da cidade de São Paulo, em 30 de novembro (Acervo CPC, 2022).


ENCONTRO DE TRABALHO:

Plano de Salvaguarda do Teatro de Grupo da cidade de São Paulo

 

Programação

30/11 (quarta-feira)

10h-12h – Abertura e Conferência “Teatro de Grupo na cidade de São Paulo”, com Alexandre Mate

14h-18h – Oficina 1: conceituação teatro de grupo

 

1/12 (quinta-feira)

10h-12h – Oficina 2: levantamento de ameaças e formas de proteção

14h-17h – Trabalho interno de coordenação: sistematização dos resultados e preparação da síntese

 

2/12 (sexta-feira)

10h-12h – Apresentação dos resultados das oficinas 1 e 2: debate, aprovação e encaminhamentos finais

 

Inscrições gratuitas em: https://bit.ly/3OpKM5k.

 

Serviço

Local: Centro Universitário Maria Antônia – Sala Multiuso

Endereço: Rua Maria Antônia, 294 – São Paulo

Realização: CPC-USP, Tusp, DPH, MTG, Motin, Cenogram, Mosaico, GT Motion, CPT.

 

ENCONTRO DE TRABALHO: Plano de Salvaguarda do Teatro de Grupo da cidade de São Paulo
  • 30/nov/2022 até 2/dez/2022
  • Preço: R$00,00
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