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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
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Risco, biomedicalização e AIDS: cobertura jornalística sobre métodos biomédicos de prevenção ao HIV

Risco, biomedicalização e AIDS: cobertura jornalística sobre métodos biomédicos de prevenção ao HIV
  • 2019
  • stephanie_costa_icict_dout_2019

Fonte

Repositório Arca Institucional da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)

Autoria

Stéphanie Lyanie de Melo e Costa

Resumo

Nas sociedades contemporâneas, marcadas pela valorização da saúde e pela medicalização, a mídia tem exercido papel central na construção do discurso do risco e na influência à eventual adoção de medidas preventivas pelos sujeitos. Esta tese analisa a cobertura d’O Globo e da Folha de S.Paulo acerca da circuncisão masculina, da PEP (profilaxia pós-exposição ao 111V), da PrFP (profilaxia pré-exposição ao 111V) e do TasP (tratamento como prevenção) como métodos preventivos ao 111V, desde o surgimento de cada um deles nos jornais até 31/12/2017. Empreendemos dois movimentos de análise. No primeiro, observamos: os jornalistas assinantes, as fontes mais ouvidas, os recursos gráficos mais utilizados, a quantidade de textos por método e sua distribuição no tempo, o tamanho médio dos espaços ocupados e a menção a outros métodos preventivos. Observamos somente para a PrEP: as editorias nas quais foi publicada, as chamadas de capa e a autoria dos textos opinativos. Em um segundo movimento de análise, sob o aporte da Análise de Discurso (Pêcheux e Orlandi), investigamos como a lógica do risco manifesta-se na cobertura d’O Globo acerca da PrEP, visando: a) identificar e problematizar o papel desempenhado pelo conceito de risco nas explicações sobre a epidemia, na definição das populações mais vulneráveis e na atribuição de responsabilidades individuais e coletivas na narrativa jornalística; b) mapear e contextualizar as principais questões priorizadas na cobertura e, por consequência, as silenciadas. Identificamos nos jornais um silenciamento sobre os métodos preventivos, marcado pelo baixo quantitativo de textos . A cobertura é motivada mais pelo ritmo das descobertas científicas e das ações dos organismos internacionais e estatais ligados à aids, em detrimento das ações, críticas e anseios dos movimentos sociais, dos profissionais do serviço público de saúde e das pessoas comuns, e a despeito dos interesses da indústria farmacêutica. Ao ouvir mais os representantes do saber especializado, os jornais privilegiam os sentidos por eles atribuídos ao risco e à aids. Na cobertura d’O Globo sobre a PrEP, o discurso do risco dá-se não pela retórica do pânico e do medo, que marcou o tom da imprensa no início da epidemia, mas por outras estratégias discursivas que incutem a responsabilidade individual pela saúde \2014e que, portanto, culpabilizam o sujeito pela continuidade da epidemia, sobretudo aquele que se enquadra nas “populações-chave”, por vezes também ainda designadas de ‘grupos de risco” Essa responsabilização individual dá-se em meio ao contexto neoliberal e de capitalismo de consumo, no qual convivem restrições ao orçamento público no enfrentamento à epidemia, ao lado do fomento a certo mercado, precipuamente de tecnologias biomédicas e farmacêuticas, que une o indivíduo responsável ao indivíduo consumidor \2014 sobretudo de produtos que dialogam com seu prazer. Entretanto, também identificamos n’0 Globo discursos contra-hegemônicos, ligados à ideia de vulnerabilidade, que apontam para responsabilidades também coletivas no enfrentamento à epidemia e que questionam a excessiva biomedicalização da aids, entendida pelo fomento a métodos biomédicos preventivos como “balas mágicas” para solucionar esse problema de saúde pública, sem investimento em políticas que combatam as determinações sociais dele.

 

stephanie_costa_icict_dout_2019

 

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