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Espetáculo híbrido de dança e performance no TUSP aborda os impasses sofridos pelos homossexuais

Espetáculo híbrido de dança e performance no TUSP aborda os impasses sofridos pelos homossexuais

Teatro da Universidade de São Paulo - 20/06/2018

Peça aborda as mazelas que oprimem e satanizam a comunidade LGBTQIA+

Em um momento em que se fala do papel da arte e dos movimentos LGBT na política e na sociedade, o espetáculo Demônios surge para aprofundar a discussão acerca dos impasses enfrentados pela comunidade LGBTQIA+. A curta temporada acontece no TUSP de 28 de junho a 15 de julho, de quinta-feira a sábado, às 21h, e aos domingos, às 19h, com ingressos a R$ 30.

Dirigido por Marcelo D’Avilla e Marcelo Denny, produzido pelo grupo Teatro da PombaGira, o espetáculo reúne dança e performance, num híbrido que pretende mostrar três formas de demônios contemporâneos que afetam o homem homossexual: o sistema socioeconômico (consumo e descarte); a falência— melancolia e outras patologias mentais do nosso tempo — e o neofascismo.

Demônios dá sequência à pesquisa Homo Eros que visa refletir sobre aspectos sociais, críticos e poéticos da sociedade LGBTQIA+. “Após o término do trabalho anterior [Anatomia do Fauno], vimos novos caminhos e novas investidas em resgatar mitologias e trazê-las para a atualidade num espetáculo performativo visceral”, conta Denny. D’Avilla explica que um dos pontos fundamentais para o espetáculo é a proximidade com o público: “Nós já tivemos essa experiência anteriormente e foi muito positivo”. Por isso, o grupo optou pelo formato arena, em que as pessoas assistem à performance dos atores no mesmo nível do palco.

O espetáculo divide-se em três atos, cada um identificado por uma cor. O vermelho simboliza os processos histéricos de consumo e descarte, abordando também outros aspectos como a posse nos relacionamentos amorosos; a violência e a fetichização dos armamentos bélicos, logo das guerras; a virtualidade e a frieza nas relações sociais e, por fim, as rotinas do sistema de trabalho e os automatismos cotidianos. O bloco preto, mais melancólico e abissal, de apelo mental e subjetivo, trata de temas como depressão, suicídio, estigmatização, doenças e solidão. Por último, o bloco branco retrata tempos de emergente conservadorismo e o neofascismo encruado na sociedade, simbolizando o perigo destas ideologias – antes ocultas, mas que hoje ganham voz –  virem a destruir os avanços que a sociedade presenciou ao longo de décadas.

Homoerotismo, Política e Arte

“A arte, bem como as artes cênicas, podem criar um lugar além do poético”, dizem D’Avilla e Denny: “acreditamos que estimular uma visão crítica do mundo que vivemos é fomentar uma reflexão para além do óbvio”. Os diretores explicam que Demônios tem caráter experimental e violento, com nítido desejo de insurreição como resposta ao confinamento social que oprime e, com isso, criar um exercício de liberdade através de um forte apelo sensorial e catártico para o reconhecimento das potências do corpo. Para D’Avilla, homoerotismo é política. “Sempre foi e agora mais do que nunca. Pois o desejo é político. Desta forma é natural que uma reflexão política se misture a questões sociais e se deem mais forte nas minorias, como os homossexuais.

Sonorização e Cenografia Imersivas

A trilha sonora foi totalmente criada para proporcionar uma experiência auditiva mais íntima, em que cada pessoa recebe seu fone de ouvido e, assim, percebe as sutilezas sonoras e musicais. A trilha original é composta e mixada no sistema binaural que, juntamente com a filtragem de frequências, permite ao público determinar a direção da origem dos sons. A construção desta trilha foi feita a partir da captação dos sons dos atuadores e dos ensaios, que são recriados, sampleados e transformados numa dramaturgia sonora performativa.

A mesma premissa do espetáculo, dividido em três atos distintos, é seguida na cenografia, que cria três visualidades baseadas em um radical exercício cromático. A ideia é criar uma imersão do público dentro de um ambiente cromático que possa saturar a visualidade e desdobrar novas leituras a partir do uso das cores e texturas. Dessa maneira, no primeiro ato tem-se cenografia, figurinos e adereços totalmente na cor vermelha e objetos plásticos e sintéticos, ligados ao consumo e descarte atual. No segundo ato, tudo se transforma em preto; refletindo as angústias e sentimentos sombrios da depressão. E o branco desenha todo o último ato, que tenta traduzir a higienização no conservadorismo radical de nossos tempos.

ProAC LGBT

Desde 2014, o primeiro ano da pesquisa Homo Eros, o grupo se inscreveu para o edital do ProAC Manifestações Culturais em Temática LGBT da Secretaria de Cultura do Governo do Estado de São Paulo. A contemplação, porém, só veio em agosto de 2017. “É uma relevância enorme. São apenas seis projetos escolhidos na Grande São Paulo, sendo cada um numa vertente artística diferente, como filme, festival, livro, espetáculo, dentre outros. Demônios é o único que aborda dança e performance”, conta D’Avilla.

Em um cenário cheio de desafios tanto de ordem econômica quanto de sucateamento da cultura no país, o apoio a espetáculos experimentais e de cultura de borda é cada vez mais raro. “Num espetáculo que fala de homossexualidade, nudez e violência, acaba sendo um projeto anti-mainstream. Vivemos até aqui sem financiamento, apenas com o apoio e a realização dos envolvidos”, contam os diretores.

Serviço

Espetáculo Demônios 

Quando| 28 de junho a 15 de julho 
Onde | TUSP – R. Maria Antonia, 294 – São Paulo, SP
Quanto | R$ 30

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