Exposição revisita imagens da batalha da rua Maria Antônia

Fotografias de Hiroto Yoshioka são a base de exposição que pode ser conferida pelo público a partir do dia 27 de outubro, nas comemorações dos 30 anos do centro cultural

O Centro MariAntonia da USP inaugura, no dia 27 de outubro, às 19 horas, a exposição Batalha a preservar: Maria Antônia, 55 anos – fotografias Hiroto Yoshioka, com curadoria do arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, Eduardo Costa, e da historiadora Deborah Neves. A visitação acontece de terça a domingo, e feriados, das 10 às 18 horas, com entrada gratuita.

Vinculada às comemorações dos 30 anos de inauguração do Centro MariAntonia, e rememorando os 55 anos da batalha da rua Maria Antônia, a mostra apresenta as imagens fotografadas por Hiroto Yoshioka no dia 3 de outubro de 1968 durante a batalha, além de material audiovisual.

Neves ressalta que, além de ampliar o conhecimento do público sobre o conflito, a mostra busca trazer o espírito do tempo de manifestações estudantis efervescentes no mundo em 1968. “Este foi o ano de batalhas estudantis na França, na Itália e na Alemanha e por direitos civis nos Estados Unidos. Uniu trabalhadores e estudantes no México. Foi o ano da greve geral dos estudantes brasileiros, da passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro pelo fim da ditadura. Por isso, trazemos também dois conjuntos de imagens de depois da batalha, em 8 de outubro de 1968, quando os alunos saíram às ruas para resistir e fazer o Congresso da UNE acontecer; e de um congresso de estudantes no Japão, feitos também por Hiroto Yoshioka” revela.

A exposição também aponta as formas de luta e comunicação com tecnologias do passado, como o mimeógrafo – que operava como uma gráfica; a pichação na parede – que servia como publicidade clandestina de ideias e convocações; ou por meio da fotografia – tecnologia do passado-presente que serviu para circular as ideias por meio de tantos livros microfilmados por Hiroto Yoshioka e para o registro das imagens expostas.

O conjunto de imagens do fotógrafo Hiroto Yoshioka foi doado ao Centro MariAntonia da USP.

Quem é Hiroto Yoshioka

Nasceu em 1943 e vivenciou o movimento internacional que marcou a Geração de 68. Ingressou no curso de arquitetura e urbanismo da USP, onde conviveu com intelectuais e colegas que mudaram sua vida. Orgulha-se de ter fotografado a peça de teatro Morte e Vida e Severina, encenada em 1965 no Teatro da PUC e premiada no IV Festival de Teatro Universitário em Nancy, na França. Colaborou com a Ação Popular fazendo fotografias para passaportes de militantes, microfilmou livros e fez da fotografia sua vida.

Um pouco de história

O edifício Rui Barbosa, onde se localiza o Centro MariAntonia, foi construído em 1930, originalmente como parte do Liceu Nacional Rio Branco. Em 1949, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP ocupa o prédio, e outras faculdades da universidade, bem como outras instituições, compunham uma base efervescente da vida universitária no centro da cidade de São Paulo.

Em plena ditadura, nos dias 2 e 3 de outubro de 1968, aconteceu um confronto, protagonizado por alunos da USP e do Mackenzie e por policiais militares, conhecido como a Batalha da Maria Antônia, que resultou na morte de um estudante secundarista, dezenas de feridos, além da depredação do prédio da USP, hoje o edifício Rui Barbosa.

Em 1991, os prédios do conjunto começaram a ser devolvidos à USP e, em 1993, o edifício principal, o Rui Barbosa, foi reaberto como Centro Universitário Maria Antonia. Em 1998, o edifício Joaquim Nabuco foi devolvido também, sem condições de uso, passou por reformas e foi reinaugurado em 2017, integrando o centro cultural, com novos espaços expositivos e auditório.

Quem são os curadores

Eduardo Costa é docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, doutor em História pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, tendo realizado doutorado-sanduíche na Universidade de Coimbra. Lidera o grupo de pesquisa Arquivos, fontes, narrativas entre cidade, arquitetura e design (CNPq) e coordena a pesquisa Cultura Visual e História Intelectual: Arquivos e coleções de arquitetura”. Tem experiência em História do Design e da Arquitetura, com ênfase em Cultura Visual, História Intelectual e Patrimônios.

Deborah Neves

Pesquisadora de pós-doutorado na Unifesp, é doutora em História pela Unicamp, mestre em História Social pela USP, especialista em La investigación en HIstória Reciente (Caicyt-Argentina), especialista em Gestão do Patrimônio Cultural pela UNIFAI (2011), bacharel e licenciada em História pela USP. Atuou como historiadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, vinculada ao Condephaat (2010-2023) e coordenadora do Grupo de Trabalho Interinstitucional Memorial Doi-Codi.