Música popular e erudita encerram a programação da 24ª edição do Programa Nascente. Festa de premiação aclamou sete áreas artísticas contempladas no programa.
Por Elcio Silva e Teresa Espallargas
Fotos: Camila Previato
Fomentar a produção cultural, intelectual e artística é um desafio e na maior universidade da América Latina isso não é diferente. Programas como Proac, Lei Rouanet, editais de Fomento da prefeitura de São Paulo, entre outros são alternativas para grupos independentes, para recém-egressos de universidades e até mesmo para artistas consolidados divulgarem seu trabalho.
O Programa Nascente foi criado na USP em 1990, com a primeira edição no ano seguinte. Era uma época em que não existia a maioria desses programas e, após 25 anos, ainda é um desafio incentivar e promover o fazer artístico dos alunos de graduação e pós graduação.
Artes cênicas, artes visuais, design, audiovisual, música erudita, música popular e texto são as sete áreas artísticas contempladas durante a Festa de Premiação da 24ª edição do programa que recebeu o maior número de inscritos desde a primeira edição.

Sarau Nascente.
O professor Marcelo de Andrade Roméro, Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária da USP, destaca o papel que o programa desempenha no ambiente universitário.
“Em 24 anos de programa, não foram poucos os que participaram dessa oportunidade não só de receber uma premiação e de ganhar visibilidade para seus trabalhos, mas também de efetivamente se integrar no mundo acadêmico com atividades que vão muito além de aulas, trabalhos ou pesquisas: é mostrar que os alunos formados na USP também podem aproveitar este ambiente para consumir e produzir arte e cultura, ampliando seus olhares sobre o mundo, desenvolvendo sua sensibilidade e criatividade, expressando ideias e sentimentos em múltiplas linguagens, interagindo com colegas de outras áreas e deixando suas contribuições à sociedade”.

Peça Aos que Vieram Antes de Nós, baseada no romance Pedro Páramo, do escritor mexicano Juan Rulfo apresentada no Teatro da USP.
O Teatro da USP (TUSP) abriu as apresentações dos finalistas em artes cênicas no dia 9 de setembro. A exposição Visualidade Nascente, que exibe os trabalhos de artes visuais, audiovisual e design, foi aberta no dia 12 no Centro Universitário Maria Antonia (CEUMA) e segue até o dia 17 de outubro com visitação gratuita. O sarau com os trabalhos da categoria texto foi apresentado no Centro de Difusão Internacional da USP (CDI) no dia 14 e as categorias Música Erudita e Música Popular encerraram as apresentações na festa de premiação realizada também no CDI no dia 15.



Árdua tarefa
Para um leigo o julgamento de uma área artística talvez pareça ser uma tarefa fácil, entretanto nossa reportagem procurou entender um pouco do que envolve a escolha de um trabalho em detrimento a outro sem cometer injustiça.
O volume de trabalhos enviados, 619 no total, foi um dos apontamentos que a maioria dos entrevistados ressaltou com surpresa. Para a professora Carmem Aranha, curadora e jurada da categoria artes visuais, o volume de trabalhos foi avassalador.
“No começo a quantidade foi uma coisa avassaladora e os nossos critérios foram ficando mais claros à medida que nós fomos segregando as linguagens”, explica.
Artes Visuais recebeu cerca de 180 trabalhos e após uma seleção prévia, o professor João Luiz Musa propôs aos outros jurados um encontro com os artistas finalistas e seus trabalhos e a partir dessa conversa uma nova seleção foi feita para chegar aos premiados.
“O Nascente assim, tem também o compromisso em proporcionar a experiência artística na divulgação da obra de arte curando e pensando a sua interação com o espaço e com outras obras e como meio de formação”, explica Musa com relação as especificidades do programa nascente.



Para a área de Artes Cênicas os jurados ressaltam que o julgamento envolve categorias bastante distintas para o processo de avaliação e foi necessário desenvolver uma estratégia para julgar essa complexidade.
“Antes de definir o vencedor é importante destacar que o prêmio do Programa Nascente estimula a participação dos estudantes a desenvolverem uma experiência artística. Os critérios artísticos não são 100% objetivos e isso dá a oportunidade de olharmos como o trabalho nos sensibilizou ao percebermos que tem algo que é anterior a avaliação, é saber como aquilo chegou a nós”, explica a professora Bete Dorgam, jurada de artes cênicas.
O professor Felisberto Sabino da Costa, também jurado da categoria, completa. “É importante ressaltar que já havia visto os três trabalhos no início da produção e desse tempo para cá percebemos uma grande evolução”.
Qualidade estética, originalidade, enredo e repertório cultural foram alguns dos critérios utilizados pelos jurados da categoria Texto para julgar os mais de 320 trabalhos recebidos.
“Notamos que tem de fato gente muito boa e valeria a pena que muitos desses trabalhos fossem publicados”, realça o professor Jean Pierre Chauvin, jurado da categoria.
Na ocasião da reportagem os jurados de Audiovisual e Design já haviam julgado os trabalhos participantes. A seleção dos premiados de Música Erudita e Música Popular foram feitas durante a festa de premiação.
O Fomento na Universidade
O trabalho artístico requer esforço e dedicação para alcançar os objetivos planejados, mas nem sempre esses critérios são suficientes para contemplar um bom trabalho com os louros merecidos.

Professor Marcelo de Andrade Roméro destaca o papel que o Programa Nascente desempenha no ambiente universitário
Uma das premissas da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP é mobilizar alunos da comunidade para novas formas de manifestações artísticas e culturais e nesse contexto o Programa Nascente entra como importante incentivador da produção artística universitária.
Durante a exibição dos trabalhos de texto, conversamos com Willy Carvalho de Oliveira, aluno de pedagogia da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Ribeirão preto (FFCLRP), que sonha em ser escritor.
“Eu tenho o sonho de ser escritor, publicar poesia, fantasia, contos de terror. Às vezes chegamos à conclusão que as pessoas não leem livros, mas saraus como este estimulam a mudarmos essa visão. Uso muitas referências em meus textos e é interessante quando as pessoas captam isso”, relata.
Oliveira exalta a necessidade de não ficar preso as amarras do texto acadêmico no processo de criação.
“Quando chegamos na universidade ficamos muito presos no pensamento acadêmico, mas existe um discurso que é meu, que faz sentido para mim e um movimento artístico como esse não deixa se perder esse artista que existe dentro de cada um”.

Vencedores na categoria Artes Cênicas pela peça (.Dentro) recebem o prêmio do professor Felisberto Sabino da Costa.
Wesley Rocha, um dos finalistas por Artes Cênicas, ressalta a importância de iniciativas como esta para os alunos.
“O Nascente permite a nós apresentarmos o que fazemos fora da universidade e essa experiência com o público e com o trabalho de produção da peça é importante, uma vez que você tem uma experiência quase real de como será quando sair da graduação”.
Giulia Castro, que também concorreu por Artes Cênicas completa:
“Esse projeto é muito interessante porque é uma oportunidade para os estudantes da USP compartilharem com outros públicos o trabalho desenvolvido na universidade. Ainda mais se falarmos do teatro independente, onde mesmo fora da universidade, é difícil ter uma oportunidade de colocar o projeto no mundo. É uma chance de sair um pouco da caixinha”.
Ranny Cabrera, aluna de letras, participou pela primeira vez do programa.
“Eu não sabia que existia o programa Nascente, creio que dessa vez houve uma divulgação maior. Eu já escrevia, mas é a primeira vez que participo. Acho o programa importante, ele incentiva a escrita criativa. Eu ainda não tinha feito o texto, fiz depois que vi o edital.”

Sidnei Xavier dos Santos e Ranny Cabrera recebem do professor Emerson Inácio o prêmio na categoria Texto.
A estudante fala da importância de programas como esse.
“Acho importante que esses programas de fomento existam. O Nascente, em especial, nos coloca em contato com outros alunos que nem sabíamos que escreviam e possibilita a troca de ideias, além de haver o incentivo aos estudantes com a premiação, que não deixa de ser importante”, completa.
Entrevistamos Cabrera durante o Sarau Nascente no dia 14 de setembro. Ela produziu o texto Aporismos, que foi um dos contemplados na Festa de Premiação, realizada no dia seguinte.
O professor Wagner Cintra, jurado de Artes Cênicas revela que participou da primeira edição do Nascente como estudante.
“Eu participei como aluno da primeira edição (1991) e iniciativas como esta são muito importantes, ainda mais naquela época que não haviam programas de fomento, fazendo do Nascente uma referência”.
A professora Lucilene Cury, coordenadora acadêmica do programa, realça a excelência dos trabalhos e os possíveis desdobramentos.
“Essa edição representa um pouco da excelência dos trabalhos produzidos. Vimos muitas coisas boas e pretendemos possibilitar que os vencedores se apresentem em novos eventos.”
Apesar de a maioria dos participantes do Nascente ser de alunos de cursos relacionados às artes, em especial os oferecidos na ECA, FAU e FFLCH, todos os anos diversos inscritos surpreendem por sua origem acadêmica improvável.

O aluno do IME, Daniel Cukier cativa o público com a Valsa do Empreendedor.
Neste ano, por exemplo, destacaram-se os alunos Daniel Cukier, finalista da área de música que se apresentou com a Valsa do Empreendedor e cativou a plateia na festa de premiação e Filipe Albuquerque Russo, menção honrosa na categoria texto com o trabalho Asfixia, ambos estudantes do Instituto de Matemática e Estatística (IME).
Além deles, outros inscritos vieram das áreas de exatas, biológicas ou até mesmo cursos de humanas não ligados às artes, como História e Pedagogia, o que reforça o caráter aberto do Programa.
Confira os vencedores da 24ª Edição do Programa NascenteARTES CÊNICAS ARTES VISUAIS AUDIOVISUAL DESIGN MÚSICA ERUDITA MÚSICA POPULAR TEXTO |